A maior causa de mortes no mundo todo em 2018: o aborto

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Papo sério: Como vai parar o squeeze da GME?

Fala pessoal. Imagino que algum de vocês, assim como eu, tem uma pipoca reservada assistindo o rolo da GME e tem interesse em ver e saber como vai desenrolar tudo.
Tem toda uma narrativa que começou essa história. Eu pessoalmente comecei a prestar atenção lá pra sexta-feira passada quando o negócio começou a tomar umas proporções maiores. De lá pra cá só venho acompanhando e tentando entender e, como não sou da área de economia nem trabalho como investimentos, não entendo muitas coisas por trás. Acompanhei essa semana e estou aprendendo conforme as pessoas vão postando e falando.
Tenho certeza que tem coisas que escrevi aí embaixo que estão erradas. Quem trabalha na área por favor, contribua e diga o que está errado. Também gosto de aprender.

Do início até agora

O pretexto de toda a história foi bem simples. Os engravatados dos fundos hedge, enquanto comiam caviar e fumavam charutos, fizeram uma cagada no mercado de ações. Shortearam uma empresa que mirava a falência em até 140%. Alguém viu isso e postou no reddit que achava que as ações iriam subir. Passou mais de um ano e a aposta do cara (que já era milionário antes, diga-se de passagem) se pagou e a cada dia ele ganhava milhões.
Alguém levantou a hipótese de um short squeeze. Isso significa que as pessoas comuns poderiam ganhar dinheiro às custas do hedge funds comprando ações (isso é, no próprio jogo dos caras) usando um aplicativo chamado robinhood. A ironia da situação é deliciosa e o dinheiro bom demais pra deixar passar. O plano é simples: Comprar e segurar. É um jogo em que as pessoas comuns apertam as bolas de quem tá em wall street e quem tá lá aperta de volta. O primeiro que arregar perde. Um tal de Jim Cramer resolveu zoar quem tava no sub do WSB e no melhor efeito Streissand, só acabou levando mais lenha pra fogueira.
As pessoas começam a comprar. Em duas semanas a ação sobe 289 dólares ou 815%. Se pegar três semanas, subiu 1700%.
De lá pra cá, o fundo hedge recebeu uma injeção de dinheiro pra permanecer vivo e disse que fechou as posições (embora ninguém acredite). O primeiro aplicativo em que descobriram o glitch do dinheiro infinito proibiu a compra de ações e depois liberou. Um monte de gente nervosa postou um monte de tweets. Crianças postaram no tik tok. Enfim tá formada a baderna. Ontem, 29 de janeiro de 2021, as ações do GameStop fecharam na NYSE à US$ 325,00.
Em uma terra longínqua, funcionários da BOVESPA tiveram que fazer hora extra porque outros tentaram reproduzir as coisas dos EUA sem ter a mínima noção do que envolveu a situação lá e compraram até dizer chega uma tal de IRBR3.

O problema do squeeze

Ao contrário da estratégia dos compradores de bitcoin que pretendem segurar a moeda até a morte térmica do universo quem levantou a ideia na verdade tem sim uma estratégia de saída. A ideia é segurar até ocorrer um short squeeze, momento em que os fundos hedge vão ser pressionados a recomprar as ações e, como tem mais de 100% das ações vendidas, quando isso acontecer, eles vão ter que pagar o preço que os titulares quiserem, seja 300, 500, 1000 ou, no valor máximo que vi ser falado até agora, 34000 dólares. Esse é o cenário que os pobres da floresta de Sherwood ganham.
Se isso não for possível, a ação vai se manter num patamar alto até finalmente cair, quem pegou dinheiro pegou, quem não pegou fica com a conta. Isso pode ser ao longo de dias, ou de uma vez só, limitado pelo circuit breaker da bolsa de lá. A pergunta que ninguém sabe é: Quanto tempo os fundos aguentam?
O objetivo do WSB até onde entendi é forçar os fundos hedge a sofrerem uma chamada de margem. Como eles estavam shorteados, e na ação shorteada o risco de perda é infinito (afinal não se sabe até onde vai parar a ação quando sobe, mas quando desce do 0 não passa), conforme o preço sobe a corretora (ou outra pessoa que emprestou a ação) cobra juros.
Além do mais, eles querem saber se você tem fundos pra aguentar o preço da ação subindo. A partir do momento que as ações começam a passar o valor que você tem de garantia, a corretora liquida suas outras posições pra fechar o short, ocasião em que vai ser comprada pelo preço do mercado. (não tenho certeza se é assim, corrijam-me se estiver errado).
Logo, a ideia é segurar o preço alto e sangrar os fundos, até a hora que os juros ou o valor das ações comece a comer tanto a garantia deles, que eles vão ser obrigados a comprar as ações pelo preço que estiver. Esse vai ser o squeeze.
Mas tem um problema que começa aí. Por mais que você acredite que o novo CEO da gamestop vai conseguir revitalizar a empresa e fazer uma loja física competir de alguma maneira com vendas cada vez mais no meio digital, você pode discutir sobre quanto vale a ação dela. US$ 10? US$ 15? Vamos lá, talvez até US$ 30? Mas com certeza não US$ 325. Logo, quem shortear a ação agora, vai ganhar dinheiro com ela na queda. Embora ela esteja alta, quando a correção fatalmente vier, quem estiver de short vai ganhar na queda.
Em termos leigos, me parece uma situação de "o dobro ou nada". Enquanto o fundo consegue bancar os juros e levantar capital pra mostrar que eles aguentam segurar o tranco, eles também podem ficar nessa por muito tempo pois, a princípio, os shorts não expiram. A questão que tenho porém é se esses juros e garantias não podem ser negociadas, para serem reduzidas, ou ao menos roladas para frente. Quem entender da área, por gentileza, comente se isso possível e se isso vai cancelar o squeeze. Acho que tem motivos políticos sérios por trás disso, como vou explicar mais embaixo.
O segundo problema, porém, são as calls. As calls são um derivativo da ação. Quem compra a call compra um direito de comprar a ação a um determinado preço. Considerando a subida do preço da gamestop a corretora precisa dar um jeito de conseguir a ação pra cobrir uma call que esteja dentro do dinheiro. A questão que tem é que as calls, ao contrário de short, tem tempo de expiração, momento em que as ações precisam estar disponíveis caso a call esteja pra ser exercitada.
Há quem diga que os picos das ações foram as corretoras se preparando para cobrir as calls, o que causou um gamma squeeze. Não vou fingir que entendo minimamente como isso funciona. Se alguém souber explicar, por favor, comente como funciona e se foi um gamma squeeze ou não.

O squeeze foi squooze?

Quem fica acompanhando o WSB só tem essa pergunta. Porque essa pergunta vai basicamente dizer uma coisa: Se a ação já chegou no topo ou não.
Duas coisas são levantadas pra isso: Short interest e esse gráfico aqui, o ponto em vermelho é o "We are here".
Se formos pelo short interest, alguém postou esse gráfico aqui. Se for confiável o short interest já tá menos de 100%. No twitter postaram essa aqui. Temos dois lugares mostrando que teve uma boa queda nas ações shorteadas. O gráfico supostamente da bloomberg também mostra uma queda nos shorts, sem aumento.
Mas tem uma coisa. Ali em cima falei que o jeito dos fundos saírem por cima nessa história (ou ao menos não falirem) é rolar o short pra frente. De US$ 325 pra frente, mais cedo ou mais tarde desaba, isso até cego vê. A ação subiu um pouco em 14/01 e os shorts caíram vertiginosamente. A ação disparou entre 25/01 e 27/01 e os shorts continuaram caindo, mesmo com o preço aumentando. Porém em 29/01, a ação fechou um pouco mais baixo do que a abertura e o SI continuou caindo.
Minha conclusão como semianalfabeto financeiramente? Grandes investidores em short rolaram isso pra frente. Eu na posição deles estaria apostando pesado em recuperar o que pudesse quando a queda vier. Se pra cada short fechado eu fizesse um novo reajustando o preço a US$ 325, eu poderia fazer ainda mais dinheiro do que quando a ação disparou de 19 pra 150. Aqui eu pergunto pra quem entende, tem como saber se esses shorts são novos ou velhos? Se tiver como podemos saber como isso vai.
Mas a Melvin não saiu do short? Talvez. Mas vale lembrar que a Melvin não shorteou 140% das ações sozinhas. Tem gente grande por trás que podemos nunca saber o nome que tá nessa também.
Mas e esse outro gráfico? Vai dar pra saber se já passou ou não quando der uma disparada né? Bom, esse é o Squeeze da VW de perto. Tentem mexer o gráfico um pouco e vejam como estavam tento oscilações grandes nos dias próximos e veja que não é tão fácil identificar o que está ocorrendo. Veja que se estivesse passando pela mesma situação hoje, o topo talvez não seria tão claro como pensam.
Porém, de lá pra cá, tem uma coisa. Isso foi em 2008, estamos em 2021. Muito mais pessoas estão entrando na bolsa e qualquer zé mané pode pagar na internet um bot pra negociar na bolsa por ele (se vai ter lucro mesmo é outra história). O número de investidores no varejo aumentando também não pode ser desconsiderado. Quem mexe só com HFT tá quilômetros na frente então. Por isso acho bem possível que o squeeze tenha sido mais suave que o da VW, pois cada queda brusca tinha um bot ou uma pessoa em cima pra negociar e não deixar ser extremamente abrupta a negociação. Mas isso, como todo o resto acima, é só especulação.
Se for assim, o squeeze já foi squooze, aí só falta a galera esperar pra ver quem vão ser os bag holders na hora que despencar. Depois ter escrito a parte aí de cima, teve esse post no investing sugerindo que a pressão de short diminuiu bastante. Ou seja, não seria igual aquele pico da VW mas um squeeze menos notável. Na ação, essa foram as oscilações perto do topo, diminuindo a pressão de short.
EDIT: Cheguei à conclusão acima usando os dois gráficos que achei mostrando uma queda do SI ao longo da semana, com isso eu presumi que seria possível aos fundos segurarem e ir saindo da posição sem dar um squeeze igual o da VW.
O problema é que tem informações conflitantes, de gente que fala que tá a mais de 120% e gente igual aquele primeiro link, que mostra que tá a menos de 85%.
Sendo assim, como eu não disponho (e francamente não sei onde achar grauitamente) informação atualizada sobre a posição do SI, vou ser honesto e falar: Não sei se o squeeze foi squooze.
Se alguém sabe de algum lugar que mostra a atualização diária do SI, posta aí pra gente ir especulando enquanto come pipoca e vê o drama desenrolar.

O squeeze das corretoras

Começa o problema da Robinhood ter proibido a compra das ações (e a avenue aqui no Brasil). Claramente nessa história do Davi contra o Golias, isso foi feito para proteger Wall Street dos oprimidos querendo ganhar algum dinheiro né? Será que é como dizem no documentário Fallout New Vegas: The game was rigged from the start?
Não é bem assim. Tá aqui a entrevista com o CEO da Webull. Eles também restringiram compras, igual a Robinhood.
Pelo que eu entendi, por mais que comprar ação no celular possa parecer comprar uma vida no candy crush, na verdade quando você aperta comprar ou vender você formaliza um contrato com a corretora. Se por algum motivo eles aceitarem o dinheiro e não conseguirem a ação, tem-se o "Failure to Deliver (FTD)". Isso é sérissimo. Significa que a corretora ficou insolvente e vai responder pelo preço da ação como se tivesse entregado a você.
Normalmente a corretora pega o seu dinheiro e manda pra casa de compensação. Só quando essa casa de compensação dá o OK que efetivamente você "tem" uma ação e a corretora entregou o que prometeu. Isso leva 2 dias. Nesse meio tempo (pelo que entendi), como as negociações são dinâmicas, a corretora assume o risco e você vê uma ação na sua conta que pode negociar. Esse risco é em dinheiro mas é calculado porque praticamente 100% das vezes as negociações vão ser liberadas pelo DTCC, mas a corretora libera pra você pra negociar e ser mais ágil nas transações (não tenho certeza se é assim, quem souber mais por favor me corrija). Em condições normais, se der algum problema, a corretora compra a ação e te entrega, arcando com o lucro ou prejuízo nesse tempo.
As coisas começaram a ficar meio suspeitas quando teve um cara no WSB que postou que uma ação (fracionária) que ele vendeu no mercado e foi realizada a mais de 2k. Logo depois as compras foram proibidas no app. Isso leva a crer que a corretora estava tendo algum problema para realizar as transações.
Aparentemente, a maior parte das corretoras usam uma casa de compensação chamada DTCC que faz a intermediação com a bolsa ou outras casas de compensação. Aparentemente essa DTCC realiza 95% das transações na bolsa de NY e exige um depósito do valor proporcional à ação que vai ser liquidada. Segundo um dos representantes dessas casas de compensação, eles aumentaram os depósitos para eles mesmos evitarem a falência. Esse tweet aqui explica bem o cálculo. Note o último tweet "Update: the plot thickens ... @The_DTCC may have exercised its right to add additional margin charges for a set of these stocks. It's a Margin Liquidity Adjustment Charge." Humm.
Voltando pro Robinhood e webull. A Webull e Robinhood recebem uma ligação da casa de compensação: Estamos aumentando a margem pra compensação das ações da GME. A partir de agora pra liberar as ações vocês vão ter que depositar um valor maior. Pra Robinhood esse valor foi DEZ VEZES MAIOR que o usual. Esses depósitos vão ficar retidos por dois dias até a corretora receber de volta. Toca o alarme as e as corretoras vão ficar sem liquidez pra essas ações, não vai mais dar pra operar. Detalhe: se a volatilidade do mercado aumentar, eles vão ter que depositar cada vez mais pra continuar trabalhando com a GME.
A primeira que parou de operar foi a TD Ameritrade. Ela tem a clearing dela própria e provavelmente começou a ter problemas pra achar as ações. Isso gera um efeito cascata. Quem não consegue comprar com a Ameritrade vai pro Robinhood, que trava e não consegue comprar. Vão pro Webull, que agora também precisa depositar valores maiores e maiores até que fica sem dinheiro e assim vai sucessivamente em efeito dominó. Assim, as corretoras param de poder fazer compras e aliviam a pressão dos shorts.
A Robinhood coloca incrivelmente os pés pelas mãos e não explica nada para as pessoas. Alguém levanta que elas receberam dinheiro da Citadel, que foi quem deu dinheiro pra Melvin se segurar um pouco nos shorts e pronto. Tão de mão dadas com os corruptos. Pessoalmente eu não invejo a situação deles. Imagina no rush que estava ser obrigado a parar de negociar a ação por ser pressionado por trás. Ou avisar para quem acabou de chegar e não entende nada que "estamos sem liquidez"? Na hora acho que deveria ser uma situação bem difícil de escolher o que dizer. Pelo menos estão tentando se explicar aqui.

O squeeze político (aviso: daqui pra frente coloque o chapéu de papel alumínio)

Muita gente pode achar que o SEC e o governo dos EUA não estão nem aí ou vagamente preocupados com a história. Eu pessoalmente duvido e acho que tem muita gente lá com com o * piscando.
Primeiramente, vamos lembrar de 2008. O zeitgeist que ficou da época é que: Os bancos brincaram de cassino com a economia. Eles perderam e começaram a falir e deu uma crise no mercado. As pessoas normais perderam casas e empregos e enquanto isso os ricos receberam dinheiro do governo pra não quebrar e continuaram brincando de cassino. Agora, 2021 é a vez dos pobres brigarem contra os ricos e ganhar dinheiro, afinal, se for só um hedge fund não tem problema né? Não é como se os governo fosse salvar eles né?
Pois bem. Lembra da crise de 2008? Se você vir aqui e descer lá pra timeline, tem um evento interessante "June 20, 2007: After receiving margin calls, Bear Stearns bailed out two of its hedge funds with $20 billion of exposure to collateralized debt obligations including subprime mortgages. Bear Stearns said that the problem was contained." Pouco depois tem outro: "July 31, 2007: Bear Stearns liquidated the two hedge funds." Nessa segunda-feira um banco recebeu um bailout também. Será que vão liquidar ele num futuro próximo também?
Bom, não é como se o short selling tivesse sido um dos estopims pra crise de 2008 né? Não exatamente, mas foi um dos sinais. Verdade seja dita, nessa época havia uma muitos naked shorts (venda da ação sem efetivamente ter comprado ela antes) no caso da GME se fala de shorts presume-se em que alguém efetivamente possuía a ação.
Mas os bancos dessa vez, se começaram a cair, vão conseguir pegar empréstimos com o governo né? Bom, não é bem assim. Em 2008, de maneira bem genérica, os bancos negociavam muito entre si e justamente por isso criaram uma situação em que, caindo um, os outros caiam, feito um castelo de cartas. Basicamente, se um banco lidava com créditos dos outros, e um banco fale, o que recebeu a carteira subitamente tem um prejuízo enorme, afetando sua liquidez e consequentemente o crédito que os outros bancos tem nele. Se algum outro banco quiser liquidar a posição pela falta de crédito, ele pode ir à falência os outros que compraram parte dos investimentos desses também tem prejuízo e podem falir sucessivamente.
Entra aqui uma ferramenta pouco conhecida chamada LIBOR. Ela já existia antes, mas entrou na crise de 2008 como uma das responsáveis pela crise. Basicamente, é uma taxa especial para calcular o empréstimo entre bancos. Se a taxa LIBOR é alta os bancos tem mais dificuldade de emprestar entre si. Na crise de 2008 ela entrou como uma das causas pras quedas, afinal um banco que estava prestes a falir não conseguiria pegar empréstimo de outro banco e acabaria falindo, proliferando o efeito cascata.
Como isso entra na questão de hoje? Bem, um similar da LIBOR é a SOFR, é a taxa pra pegar dinheiro emprestado que usam garantias do tesouro americano. Ao contrário da LIBOR em 2008, a SOFR está bem baixa (desça lá no gráfico e coloque o período de um ano atrás). Logo, um hedge fund perto da falência pode conseguir empréstimos bons ainda. O que vai restar depois desse caos do GME só o futuro dirá. Porém, reajustes na LIBOR e SOFR podem servir de termômetro do que está por vir.
Voltando à situação atual. Um problema bem sério desse squeeze do GME é que o que salvou os bancos em 2008 não está disponível. A salvação final, um bailout do governo. Porquê? Veja o contexto atual dos EUA. Os mais informados dentre vocês talvez tenham ouvido falar de uma tal de COVID-19. Não foi muito divulgado, mas aconteceu ano passado lá. Muita gente perdeu o emprego e pediu que o governo ajudasse. O governo lá disse que não tinha dinheiro e deu dois cheques, um de US$ 1200 e outro de US$ 600. Mandou o pessoal usar máscara e fazer aula de TI pra trabalhar de casa.
Obviamente com o desemprego rampante e demissões em massa houve a maior crise desde 1929 né? Ah não, foi cancelada com a money printer go brrr do Powell. O problema aqui começa a dar as caras com a squeeze da GME. O impacto na economia da pandemia foi massiva mas os stonks only go up. Na minha opinão de leigo, isso com certeza se relaciona com os short sellers. O mercado no geral está super valorizado, uma hora vai cair pra adequar à realidade. Pode me chamar de 🌈🐻 mas infelizmente acho que nem sempre stonks only go up.
Onde isso volta pra situação do GME? Alguns fatores certamente são similares à crise de 2008, notadamente, hedge fund falindo não é bom sinal pro mercado. Nesse caso, os compradores do varejo são os principais adquirentes da GME e a história toda tem a ver com a transferência de dinheiro de Wall Street para as pessoas pobres. Imaginem a merda política que vai ser se dessa vez o governo dos EUA tiverem que intervir lá para salvar os bancos e evitar uma crise tipo a de 2008 de novo? O governo tinha dinheiro pros bancos mas não pras pessoas na pandemia. Imagina se agora eles tiverem sim dinheiro pros bancos? Porque não ajudaram as pessoas desde o começo então?
Por isso acho que tem muita gente por trás dos panos desesperada para resolver esse impasse do GME sem falir ninguém. Pior do que falir o fundo hedge porém, é uma corretora ficar na mão, ou a câmara de compensação. Imagina a crise se agora o novo milionário não conseguir receber o dinheiro porque justamente na "vez dos pobres" a corretora não dá o dinheiro? Sem falar na crise institucional minando a confiança na bolsa se agora, ao negociar na Bolsa nem sempre você recebe se você ganha.
Esse squeeze acabou relando num ponto bem mais dolorido do que só a Melvin Capital, a Citadel ou o Robinhood. Acho que tem gente muito assustada com isso. O próprio silêncio do SEC fala volumes. Seria extremamente fácil falar que o WSB tá organizando pump e dump e parar a transação na bolsa até esfriarem as coisas. Exemplo disso é o que a BOVESPA fez aqui.
Acredito que não fizeram isso pois nesse clima de "luta de classes" se eles tentarem algo desse jeito, seria bem possível que o tiro saísse pela culatra e mais gente ainda quisesse comprar a ação, afinal, eles não podem barrar a compra para sempre. Seria algo igual o Cramer, que zoou o WSB e a zoeira dele, além de virar o grito de guerra (o We like the stock), acabou trazendo mais atenção ainda pra situação.
Por isso perguntei lá em cima se os shorts não podem ser renegociados. Normalmente não haveria nenhum motivo para isso. Mas numa situação dessas, não vejo porque não seria possível negociar para que a situação fique um pouco mais leve para os shorts, notadamente se a escolha é colocada como ajudar eles ou evitar uma crise de 2008 de novo. Se tiver que optar entre não sangrar o hedge fund e não realizar chamadas de margem enquanto a situação é desarmada por outras pessoas, ou passar pela crise de 2008 de novo, vejo bem possível alguém mexer os pauzinhos por trás para aliviar a pressão. Nesse meio tempo os shorts ganham muito fôlego e o squeeze é cancelado. Claro que isso seria mudar as regras no meio do jogo, mas quem disse que a vida é justa?
As casas de compensação começam a travar as operações e exigem garantias cada vez maiores até travar as compras. Sabe o último tweet lá em cima que houve uma ordem mencionando que foi um ajuste de liquidez? Podem existir razões financeiras, mas para mim a mensagem é clara para as corretoras “Se vocês não pararem de vender, não vamos ser nós que vamos pagar as contas.”
Coloque tudo isso junto e chegamos à conclusão. A ideia, num mundo seguindo as regras é que os fundos pagariam se o squeeze fosse squooze, pois os fundos jogariam com as mesmas regras que os outros. No mundo real todos os pontos estão sendo apertados com o squeeze pra aliviar os fundos. Nesse mundo real que as regras podem ser mudadas, às vezes o squeeze seria impossível desde o começo.
Pessoalmente não gosto de teorias da conspiração, mas vendo como as coisas se desenrolaram não dá pra descartar que todo o sistema acionário está sendo apertado e se mexendo pra evitar esse squeeze. Ou talvez seja simplesmente um funcionamento incomum decorrente do influxo massivo de investidores varejo.
Mais uma vez, fiz várias presunções e tenho certeza que algumas estão erradas. Quem trabalha na área, por favor comente aí.
TL;DR: GME 🚀🚀🚀💥
Edit: Tinha faltado um link
Edit2: Adicionei que tinha informações conflitantes de SI% lá em cima
submitted by WilliamJoe10 to investimentos [link] [comments]

Iluminando Ciro Gomes: o Brasil é o quarto país do mundo que mais tributa empresas

E supera todos os países da OCDE
Nota do Editor
Ciro Gomes, que nunca perde uma oportunidade para demonstrar suas qualidades mitomaníacas, utilizou sua conta no Twitter para mostrar qual a sua "solução" para a situação fiscal do Brasil.
Como sempre, ele fala sobre seus dois assuntos principais: tributar herança e tributar lucros e dividendos.
Sobre heranças, ele diz:
"Imposto sobre heranças. EUA cobram 40%, o Brasil cobra 4%."
Esta é a famosa técnica de contar uma mentira aludindo a alíquotas verídicas, porém descontextualizadas.
Sim, nos EUA, há uma alíquota de 40% sobre a herança, mas ela só incide para valores acima de US$ 11,20 milhões.
Mais ainda: na prática, há apenas 2.000 pessoas que pagam esse imposto.
Se o argumento de Ciro é o de que um imposto que incide sobre apenas duas mil pessoas é o responsável por bancar todo um país, boa sorte para ele.
Mas isso ainda é o de menos. É perfeitamente possível e legal evitar esse imposto: basta você criar uma fundação em seu nome. Não é à toa que milionários americanos são conhecidos por criar fundações em seus nomes, para as quais transferem toda a sua herança e então nomeiam familiares para gerenciarem tais fundações. Isso faz com que a herança, por mais bilionária que seja, se torne 100% isenta.
Mas Ciro, obviamente, nada fala sobre isso. Ele simplesmente dá a entender que, nos EUA, há uma alíquota 40% que incide sobre todos os cidadãos, e que esta é uma das causas da prosperidade do país.
No entanto, agora vem a pior parte:
"Taxar lucros e dividendos empresariais. Só o Brasil e a Estônia não cobram no mundo todo. Se cobrarmos o que eu já cobrei, o Brasil arrecada R$70 a 80 bilhões por ano, sem nenhuma distorção locacional porque é só o lucro e dividendo que sai da empresa, não o que é reinvestido."
Em primeiro lugar, e este é o tema do artigo abaixo, é uma inqualificável mentira dizer que o Brasil não tributa lucros empresariais.
O Brasil, de maneira geral, cobra dois impostos sobre os lucros: o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido — os quais cobram, respectivamente, 25% e 9%, totalizando assim 34%.
Como será demonstrado abaixo, das 20 maiores economias do mundo, somente Brasil e França taxam as empresas em mais 30% dos lucros. As empresas no Brasil pagam em média aproximadamente 40% a mais do que no restante do planeta e 50% em relação à OCDE.
Isso explica por que há uma isenção na taxação de dividendos no Brasil: o governo brasileiro optou por tributar na pessoa jurídica e não na física. Todo o imposto já foi pago pela pessoa jurídica. Ou seja, o governo optou por IRPJ e CSLL altos e isenção de distribuição de lucros e dividendos. Na maior parte do mundo, o IRPJ é muito menor (CSLL nem existe) e há taxação quando os lucros são distribuídos na forma de dividendos.
Toda e qualquer análise sobre tributação de dividendos deve ser feita em conjunto com o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL. Por isso mesmo, não faz nenhum sentido tributar os dividendos se não houver redução no IRPJ e na CSLL. Ciro nada propõe quanto a isso.
Implantar a tributação de dividendos iria apenas aumentar ainda mais aquela que já é a quarta maior carga do mundo (e a segunda entre os vinte mais ricos).
Por fim, como também será demonstrado, o Brasil já tem 92 tributos. Os outros países não chegam a 20. A tributação de dividendos significaria apenas a criação de mais um tributo, o que nos afastaria ainda mais dos outros países.
No Brasil, a alíquota máxima do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica é de 15%. No entanto, há uma sobretaxa de 10% sobre o lucro que ultrapassa determinado valor. Mas não pára por aí.
Há também a CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido), cuja alíquota pode chegar a 32%; o PIS, cuja alíquota chega a 1,65% e a COFINS, cuja alíquota chega a 7,6%. PIS e COFINS incidem sobre a receita bruta. Há também o ICMS, que varia de estado para estado, mas cuja média é de 20%, e o ISS municipal.
Se você fizer a conta, irá se apavorar. Os estrangeiros fizeram.
Recentemente, o titular da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, fez um tuíte comentando os números da OCDE, mostrando que o Brasil taxa muito as empresas (confira aqui).
Analisando os dados, é possível constatar que o secretário está correto.
Os dados estão no Corporate Tax Statistics Database da OCDE (link aqui) e consideram impostos sobre a renda das empresas do governo central e dos governos regionais.
São disponibilizados dados para 108 países: 36 pertencentes à OCDE e 72 não-pertencentes.
As alíquotas mais altas estão na Índia, 48,3%, seguida pela República Democrática do Congo e por Malta, 35%, e pelo Brasil com 34%.
É isso mesmo: as empresas brasileiras pagam a quarta maior alíquota de impostos sobre renda entre os 108 países avaliados pela OCDE.
E piora: em nenhum país da OCDE a alíquota é maior que no Brasil. Chega perto, como é o caso da França, mas não é maior.
Vale repetir para enfatizar: o Brasil tributa mais as empresas do que todos os países ricos da OCDE.
(Isso não é exatamente uma novidade para os leitores deste site. Este artigo, por exemplo, mostra que, após todos os impostos, uma empresa fica com apenas 3% de seu faturamento.)
Considerando todos os países da amostra de 108 países, a alíquota média é de 20,7%.
Retirando os 11 países onde a alíquota dos impostos sobre a renda das empresas é zero – nenhum deles pertence à OCDE —, a alíquota média sobe para 23%.
Para os países que não pertencem à OCDE e cobram alíquotas maiores do que zero, a alíquota média é de 22,8% e a mediana é de 25%.
A figura abaixo mostra as alíquotas desses 61 países que não pertencem à OCDE, com o Brasil em destaque.
Figura 1: alíquota total de impostos sobre a renda das empresas para os países que não pertencem à OCDE
Ou seja, dentre os países que não pertencem à OCDE, o Brasil só tributa menos que Índia, Malta e Congo.
Já na amostra com apenas os países da OCDE, a alíquota média é de 23,3% e a mediana é de 23,5%. A figura abaixo mostra essa amostra de países adicionada ao Brasil. Fica claro que as alíquotas de impostos sobre a renda enfrentadas pelas empresas brasileiras são bem maiores que as de outros países, inclusive de países ricos.
Figura 2: alíquota total de impostos sobre a renda das empresas para os países que pertencem à OCDE (o Brasil não pertence, mas está ali para efeitos de comparação)
Ou seja, somos o incontestável campeão mundial de tributação de empresas quando comparado aos países mais ricos e importantes do mundo.
A figura abaixo mostra as alíquotas em todos os países da amostra com destaque para um grupo selecionado de países; quanto mais para direita, maior a alíquota do país. O eixo vertical mostra quantos países possuem alíquotas menores que a do país.
O gráfico mostra que 97,2% dos países possuem alíquotas menores que a do Brasil e 12% possuem alíquotas menores que a Hungria.
Figura 3: no eixo X, a alíquota total de impostos sobre a renda das empresas; no eixo Y, a porcentagem de países com alíquotas menores que um determinado país
As consequências de uma alta carga tributárias sobre as empresas são nefastas.
A tributação sobre afeta os empreendimentos e os investimentos produtivos
Em uma economia livre, a quase totalidade dos lucros obtidos tem de ser poupada e reinvestida. A maneira de um empreendedor introduzir melhorias nos produtos produzidos e vendidos é reinvestindo a quase totalidade dos lucros obtidos. É por meio desse processo que o público geral se beneficia do capital acumulado pelos capitalistas e empreendedores.
O caso clássico é o de Henry Ford: ele começou com um capital de aproximadamente US$ 25.000 em 1903 e terminou com um capital de aproximadamente US$ 1 bilhão à época de sua morte em 1946. Foi graças a ele — que reinvestiu quase todo o seu lucro para aprimorar o processo de produção — que os automóveis apresentaram uma espetacular redução real de custo, indo de um preço hoje comparável ao de um iate para um preço que praticamente qualquer pessoa podia bancar.
Ford foi responsável pela maior parte do enorme progresso ocorrido nos automóveis produzidos ao longo desse período, bem como na eficiência com que eles passaram a ser produzidos. Ford reinvestia seus lucros na expansão da produção destes automóveis aprimorados.
Se seus lucros houvessem sido confiscados pelo governo, dificilmente teria ocorrido tamanha evolução no mercado automobilístico.
Os lucros são exatamente o que possibilitam as empresas a fazer novos investimentos, a adquirir mais maquinários, a expandir suas instalações e, com isso, aprimorar sua capacidade produtiva.
São também os lucros que possibilitam a contratação de novos empregados ou até mesmo a concessão de aumentos salariais.
Em qualquer setor da economia que opere sob concorrência, os lucros necessariamente têm de ser reinvestidos na empresa, seja na forma de reposição de estoques, seja na forma de expansão dos negócios, seja na forma de contratação de novos trabalhadores, ou até mesmo na forma de aumentos salariais. Se isso não ocorrer, as empresas simplesmente não serão capazes nem de repor seus estoques. Consequentemente, perderão sua fatia de mercado.
São os lucros, portanto, que permitem que as empresas façam novos investimentos, intensifiquem seu capital produtivo, contratem mais pessoas e paguem maiores salários.
Impostos sobre a receita e sobre o lucro das empresas afetam diretamente todo esse processo de formação de capital. Tributar receita e lucro significa fazer com que a capacidade futura de investimento das empresas seja seriamente afetada, o que significa menor produção, menor oferta de bens e serviços no futuro, e menos contratação de mão-de-obra.
Quando o governo tributa receita e lucro, ele apenas faz com que o dinheiro que seria utilizado para ampliar e aprimorar os processos produtivos seja agora direcionado para o mero consumismo do governo, ficando sob os caprichos de seus burocratas, obstruindo a formação de capital.
A maior parte daquela fatia que é confiscada pela tributação teria sido usada para a acumulação de capital adicional. Se o governo utiliza essa receita para financiar suas despesas correntes, o resultado será uma diminuição na acumulação de capital.
Como consequência dessa redução na acumulação de capital, o progresso (inclusive tecnológico) fica prejudicado. A quantidade de capital investido por trabalhador empregado — o que aumentaria sua produtividade — é diminuída. Assim, o aumento da produtividade marginal do trabalho e o correspondente aumento dos salários reais é interrompido.
É praticamente impossível uma economia prosperar e enriquecer se suas empresas são tributadas em níveis confiscatórios. Não é à toa que os países nórdicos são conhecidos por tributarem pouco suas empresas. Vide as posições de Noruega (Norway), Dinamarca (Denmark), Suécia (Sweden) e Finlândia (Finland) na figura 2. Suas alíquotas são, respectivamente, 22%, 22%, 21,4% e 20%.
Imposto sobre dividendos
A discussão a respeito das alíquotas de impostos sobre a renda das empresas ganha ainda mais relevância em um momento em que o governo fala de taxar dividendos, uma tributação que incide sobre o dinheiro que a empresa paga aos acionistas.
O argumento mais corriqueiro é o de que "praticamente todos os países do mundo tributam dividendos". Não vale. O Brasil tem nada menos que 92 tributos. Os outros países não chegam a 20. Logo, a tributação de dividendos significaria apenas a criação de mais um tributo, o que nos afastaria ainda mais dos outros países.
E há também os efeitos não-premeditados. Tributar dividendos tem o potencial efeito de imobilizar recursos em uma empresa que pode não ser a mais interessante para investir. Se o imposto sobre dividendos for muito alto, o acionista pode preferir manter o dinheiro na firma a receber os dividendos e investir em outra empresa mais produtiva. Isso reduz o dinamismo da economia, premiando as empresas menos eficientes e afetando o redirecionamento de recursos para as empresas mais eficientes.
Para concluir
Qualquer ideia sobre tributar dividendos não pode ir adiante sem antes o governo efetivamente reduzir o Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL).
Caso contrário, iremos apenas disputar com a Índia o topo do ranking dos países que mais tributam o lucro das empresas — o que, convenhamos, não é uma meta alvissarreira.
Roberto Ellery sexta-feira, 8 jan 2021
Fonte: https://www.mises.org.barticle/3270/iluminando-ciro-gomes-o-brasil-e-o-quarto-pais-do-mundo-que-mais-tributa-empresas-
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Memórias de jabutis e discussões de imortalidade

DISCLAIMER rápido antes de começar o conto: eu nunca postei nada meu para feedback e eu mal tenho 18 anos, então o que eu quero dizer é: não sejam o Monteiro Lobato da minha Anita Malfatti por favor; eu quero um feedback sincero, só não quero ser absolutamente massacrada.
Se consultar qualquer livro de biologia, receberá uma resposta unânime: um jabuti sortudo e saudável vive em média 80 anos. Quem quer que tenha chegado a essa precisa conclusão, com toda certeza, nunca conhecera o meu jabuti. A figura ilustre da família Agustini e causa da minha insônia e derrota.
Minha família nunca fora uma que, de fato, preocupou-se em criar um legado, de qualquer tipo, para seus descendentes. Viviam no seu presente e não eram particularmente bons em planejamento. Ocuparam-se somente – ao menos, quero dizer – em arranjar uma casa, num momento esquecido na metade do século XIX. Foi nessa casa que vivi o começo da minha morte.
Quando meu pai falecera, não herdei nada de valor. O pouco dinheiro herdado fora gasto no primeiro mês com o conserto do encanamento da casa dos Agustini. Apenas herdei, de verdade, o jabuti. O maldito jabuti. Chamava-o Astor, com consciência de que não era seu nome. Escrevo agora sem lembranças de se em algum dia soube o verdadeiro nome da excelência de jabuti que ele era – ainda deve ser – ou se a cada geração trocava-se o apelido do amaldiçoado.
Sabia pouco do bicho quando o conheci. Ele acompanhara meu avô durante sua vida toda e depois, fizera questão de acompanhar também meu pai. Meu avô morrera com quarenta anos, meu pai com trinta, então, até ali a conta fazia sentido. Eu tinha pouco mais de dez anos na leitura do testamento. Tinha visto meu pai duas ou três vezes antes do funeral. Minha mãe recebera o dinheiro por mim e mudamo-nos para a casa da família Agustini.
A casa estendia-se na linha que dividia o encantador e o horrífico. Era um casarão. As janelas altas fechadas recusavam-se a abrir, as abertas recusavam-se a fechar. As portas rangiam. O piso de madeira gritava com a dor de ser pisado. A rede elétrica não funcionava, qualquer lâmpada acesa era um risco de incêndio e logo tive de aceitar o inevitável: a luz das velas e dos lampiões seria minha única iluminação nas noites.
O jabuti ficava na biblioteca, arrisco até mesmo dizer que nunca o vi em nenhum outro cômodo. A biblioteca era um dos maiores quartos do casarão. O teto era mais alto e tinha um lustre inútil pendurado em seu meio. As estantes eram altas e carcomidas, recheadas de livros antigos, cheirava de velhice. Tudo me deixava espirrando por dias com a poeira anciã. Os quadros cobertos não me incomodavam ou despertavam curiosidade, só existiam e, naquela época, isso me bastava.
Todavia, cresci. Em algum momento da juventude, as peças soltas em minha mente e memória infantil foram encaixando-se, revelando para mim um quebra-cabeça. Enigma que teimava em não formar uma imagem coerente e deixava-me acordado noites a fio, inseguro do que se passava naquele casarão isolado.
Pesa-me admitir, porém minha vida resumiu-se em dois períodos, antes do casarão e depois do casarão. Dois períodos curtos, como o leitor já deve adivinhar. Muito cedo me encontrei com o silêncio do caixão, no entanto, mais tarde do que meu tormento me levava a desejar. Minha lembrança me falha em vezes, porém nunca falhou em me recontar com precisão cirúrgica o que acontecera naquela noite fria de agosto.
Tinha vinte anos na época. Não conseguia dormir havia dias, semanas talvez. Levantei-me sonolento. Cambaleando como um bêbado eu vaguei pelos corredores, de pés descalços, embrulhado num casaco longo, de olhos entreabertos, sem rumo e sem intenção. Peguei-me girando a maçaneta da biblioteca, empurrando a porta pesada. Nunca soube como cheguei lá, nem por que fui até lá, mas, nos poucos anos que me sobraram depois do episódio, comecei a culpar meu estado desacordado, sedado pela falta de sono.
Com os braços incertos, levantei o lampião na altura dos olhos e entrei. O jabuti inerte estava do outro lado do cômodo. Observava-me com a mesma questão tortuosa que eu o observava. Deitei-me no chão. Bocejei. Virei minha cabeça para evitar o olhar julgador do animal.
Embaixo da estante, havia uma caixa verde. Estreitei o olhar. Lento e impreciso, rastejei-me até ela. Puxei-a como se fosse uma folha de tão leve.
Era tão velha quanto a casa em si. Assoprei a poeira de cima e limpei o resto com as mangas do casaco. O nome da família estava inscrito com uma letra dourada, já desbotada pelo tempo. AGUSTINI. Sorri sozinho. Abri-a com cuidado. Parecia-me tão frágil e tão irreal que talvez um movimento brusco me fizesse acordar. Mirei de esguelha o jabuti. Ele ainda me encarava com os olhos fundos.
— Você sabia que isso estava aqui? – Perguntei com um riso baixo.
— Sim. – Jurei ouvir sua resposta misturar-se à ventania do corredor.
Engoli em seco. Balancei a cabeça. Já tinha lido uma vez: depois de algumas horas sem dormir, o cérebro começa a alucinar. Voltei minha atenção para a caixa. Coloquei-a perto da luz. Estava estufada de fotos e cartas velhas. Eu não sabia tanto quanto desejava sobre a família paterna, não precisei muito, no entanto, para reconhecer meu pai e meu avô na primeira foto que vi. Os dois parados na biblioteca. Meu avô sentado na cadeira de veludo vermelha. Ele parecia-se comigo, deveria ser apenas alguns anos mais velho naquela foto. Meu pai, criança, sentava ao seu pé, ao seu lado o anônimo jabuti. Mostrei-lhe a foto.
— Já estava velho aqui.
— Continue olhando. – Retrucou impaciente.
Dessa vez, ouvi alto e claro. Alucinação nenhuma falava com aquela dicção. Não enxergava o suficiente para dizer se ele estava mexendo-se. Pouco me importava. O desgraçado estava falando! Sua voz era rouca. De alguma forma, ele soava exatamente como eu tinha imaginado, por mais que não me recordasse até aí de imaginá-lo falando.
— Como? – Gaguejei.
Pensando agora, pode ser que nem tenha produzido um som. Fiquei parado com a boca aberta procurando uma palavra inexistente.
— Continue.
— Isso está acontecendo mesmo? – Não sei por que perguntei ao jabuti, mas perguntei. Ele não respondeu. Coloquei meu dedo perto a chama do lampião. O calor esquentava sem vergonha os meus dedos. O tapete pinicava minhas pernas. O ar ártico convidado a entrar pela janela fazia minha cabeça latejar. Era real. – Você sempre falou?
— Continue olhando.
Deixei a foto de lado. Uma porção de cartas amareladas eram o que seguia. Tirei uma por uma da caixa. Mesmo com os olhos cansados, nada poderia me impedir de lê-las e relê-las. Nenhuma fatiga do mundo me importou depois que o jabuti começou a falar. Não reconhecia nome algum nelas, nem de quem as escrevia nem de quem as recebera. Nunca as cometi a memória. Ao menos, não todos os trechos, somente os que me assombraram pelo resto da vida.
“Paulo, volte logo, o coitado do Arthur adoeceu. Se me permite, ele viveu mais do que imaginei que viveria. O médico ainda me afirma não saber qual é a doença. Não preciso que me diga o que está errado, ninguém parece compreender isso. Volte assim que receber a carta. Ele não durará muito e quer que se mude para cá com o jabuti.”
Procurei a data. Minhas mãos de terremoto girando aquele papel ancestral. Nada. Absolutamente nada. Cocei os olhos. A assinatura trazia “Amelie Agustini”. Eu nunca tinha escutado esse nome antes. No entanto, já escutara sobre Paulo Agustini. Meu bisavô, nascido em algum ano por volta do início da década de 1920. Não tive a coragem de virar minha atenção para o jabuti. Não naquele instante. Joguei essa carta ao lado. Puxei a próxima.
“Arthur, estamos aguardando seu retorno o mais pronto possível. Não me admira sua distância e não me dou o luxo de sequer imaginar o que possa estar fazendo tão solitário. Você está bem, disso eu sei, já me contou maravilhas em suas outras cartas. Nada posso fazer a não ser suplicar pelo seu retorno. Camilo já está na cama e mal abre os olhos. Sabe que deve morar com o jabuti agora.”
A caixa ainda tinha mais cartas. Não ousei abri-las. Joguei tudo de volta. Fechei-a com força, na esperança de que emperrasse e nunca mais pudesse ser aberta. Chutei-a de volta para debaixo da estante. Coloquei meu dedo no fogo sem pensar. O aviso do calor era tão inevitável quanto irrelevante. Gritei com a queimadura. Recuei como um animal. Meus dentes rangendo, enquanto meus dedos derretiam como cera bege.
— Que quer dizer “morar com o jabuti”? – Meu estômago revirava. Tremia de frio. O suor descia contornando cada detalhe e defeito do meu rosto. – É você? Isso não faz sentido. Você não pode viver tanto assim. Eu li livros sobre jabutis. Você já deveria estar beirando a morte.
— Eu suponho que jabutis também não tenham a capacidade de falar, mas você me escuta muito bem, não escuta? – Ele provocou. Eu odiava-o. Ainda o odeio. Nem a morte consolou-me do quanto ardia de ódio por aquele bicho estúpido.
— Como chegou aqui?
— Eu moro aqui.
— Eu percebo que mora aqui, Astor. – Ricocheteei. – Quero saber, como minha família te encontrou?
— Estava aqui quando se mudaram.
— Quem morava aqui antes? – Choraminguei.
— Ninguém, se minha memória não me falha. São tantos anos, posso me esquecer de um detalhe ou outro.
Sua voz tinha entonação demais para um bicho que mal se movia. Persegue-me até no além. Não consigo esquecer. Aquela voz de gente presa num ser tão ridículo e grotesco como ele. Continuava na penumbra.
— Quem construiu a casa? – Eu estava chorando, sem soluços e sem exageros.
— Não sei. – Disse sincero. – Estou aqui desde que me lembro.
— Por que você não morre?
— Não há necessidade para a sua agressividade. Está sendo irracional, agora. Não escolhi não morrer, apenas nasci e nunca morri. Nada me garante que nunca morrerei. – Ele fez uma pausa. Fitou-me preocupado. Estremeci. – Tenho que dizer, os homens da sua família morrem até demais.
— É por sua causa?
O ponto de interrogação é um eufemismo, leitor. Eu não perguntei. Eu denunciei-o. Era uma acusação bruta.
— No fim do dia, sou um jabuti, não sei se consegue compreender isso. Sim, eu falo. Sim, aparentemente, não morro. Mas, sou um jabuti de qualquer forma, não sou? Não entendo como poderia ser a causa da morte dos homens da sua família. – Suspirou. – Imagino que... Veja, tudo que eu faço é dar uma razão. Um consolo, se preferir, para a morte deles. Se me dá essa liberdade, sugiro que arranje um filho o mais rápido possível.
— Para quê?
— Ora, para que fique comigo depois que você morrer.
— Como?
— Suponho que funcione assim. É o que ouvi de sua família. Dizem que o mais cedo consegue um filho que fique com o jabuti, mais viverá. Veja, seu pai demorou um pouco em te arranjar, seu avô já foi mais esperto. Se me lembro bem, seu avô também teve muita sorte. Nunca vi um homem viver tanto como ele viveu, mas com certeza, sempre há um que foge do normal. – Vi-o sorrir com a dentadura amarela e podre. – O relógio não está muito em seu favor.
— Você é uma entidade? – Não acreditava na minha pergunta. Minha voz me era como um eco distante.
— Não sei.
— Deve saber.
— Alguns mistérios na vida não foram feitos para serem desvendados. Não aqui. O relógio não está muito em seu favor. Sabe disso, não sabe? É claro que sabe. O relógio não está muito em seu favor.
O mais ele repetia a mesma oração, mais ela enfiava-se entre as dobras do meu cérebro. E no fim daquele vácuo, era a minha voz que gritava de volta. Repetindo... Repetindo... Repetindo. O relógio não está muito em seu favor. Não sabia qual relógio. Não sabia em que jogo eu era a aposta. Só sabia que estava perdendo. O relógio não estava muito em meu favor. Poderia estar, se eu quisesse, talvez.
Eu saí da biblioteca tropeçando nos meus pés. Fechei a porta atrás de mim e respirei fundo. Não fiz mais nada aquela noite. Fui para meu quarto. Tranquei-me. Dormi por um dia inteiro.
Acordei com o sol lambendo o meu rosto. Minha lembrança não me respondia quando eu perguntava se a minha conversa com o jabuti, de fato, ocorrera. A caixa verde, as fotos e as cartas eram reais, isso verifiquei. Entretanto, a maneira na qual o bicho me encarava quando tentava concentrar-me na biblioteca era a única confirmação que precisava. Astor falava e, até onde eu sabia, era alguma entidade controlando o meu tempo de vida.
Já sabia que não me restava muito tempo mais, seguindo com minha linhagem ou não. O mais encontrava com o jabuti, o mais eu tinha pesadelos. O mais ouvia os passos anônimos nos corredores durante a noite. O mais tomava remédios para poupar-me da insônia. O mais eu me convencia que não passaria aquela maldição adiante.
Não era tanto sobre o medo me paralisando, como era sobre a esperança de que, caso a família Agustini acabasse comigo, talvez o jabuti morresse junto. E eu não queria nada mais que isso. Queria-o morto. Deitaria sorridente em qualquer caixão, se pudesse ter certeza de que aquele diabo de bicho agonizaria até a morte.
Nunca saberei se meu plano funcionara ou não. De vez em quando, na calada do infinito, pego-me imaginando o jabuti, plantado naquela biblioteca, esperando pela próxima família se mudar para a casa e iniciar seu culto novamente. A verdade é que há mistérios que sequer um homem morto consegue responder.
Os próximos quatro anos que tive de vida passaram por mim como um mês longo e interminável. Nessa primeira semana, minha mãe mudou-se de volta para a cidade. Até hoje desconhece a natureza do jabuti e a existência da caixa verde na biblioteca. Despedi-me com promessas de escrever todas as semanas. Escrevi menos de cinco vezes.
Na segunda semana, gastei meus dias lendo as cartas. Vendo as fotos. Mudando alguns livros de lugar. Olhando as pinturas dos antigos Agustini acompanhados do jabuti.
Na terceira semana, ignorava por completo o animal. Fingia que não existia. Passava os meus dias sentado na cozinha ou deitado na grama do jardim vazio. Fazia tudo esperando que minha morte chegasse logo.
Fora apenas na quarta semana quando percebi a passagem do tempo como ela é. Não tinha consciência de que aquele seria meu último ano, porém algo em mim já parecia saber. Hoje reconheço isso. Na época, não passava de um aperto estranho em minhas tripas me dizia que tudo estava errado. Era evidente que tudo estava errado. Estava isolado num casarão assombrado com um jabuti imortal. Falhei em perceber que o sentimento era o aviso do fim iminente.
Não pense, leitor, que nesses últimos momentos, não me desesperei com a perspectiva única de quem se aproxima da morte. Talvez fosse a solidão. Talvez fossem os fungos antigos fazendo efeito. Talvez fosse a incerteza do futuro post mortem. Não a incerteza de para onde eu iria ou qual seria meu destino após a morte, e sim, o que aconteceria com o jabuti. Incerteza que permanece e rói o que me sobrou.
Mais de uma vez cogitei abandonar meu plano. Mais de uma vez cheguei a arrumar-me para sair, determinado em conhecer alguém e fazer de tudo para seguir com a linhagem dos Agustini. Dar-me o luxo de mais alguns anos ou meses que fossem de vida. Foram nesses quase deslizes que o quebra-cabeça mal elaborado, por fim, revelou-se a mim. Todas as questões que me perseguiram pelos anos foram respondidas.
Se algumas crianças eram frutos de uma história de amor, eu era fruto das ações inconsequentes de um homem que desejava escapar da morte. Fora esse o fardo que eu carreguei nas costas por toda a minha vida. E não o carregava sozinho. Todos os homens da família nada mais eram do que uma tentativa medíocre de viver. A última vez que se coloca a cabeça para fora da água antes de ser engolido pelo mar.
Tinha que acabar comigo e comigo acabou.
Não me lembro meus delírios de morte. Se os lembrasse, também não teria interesse em narrá-los. Se eu sou honesto com o leitor, sequer tenho certeza se esses delírios existem ou são meras fabricações da minha mente desocupada e desincorporada. A divisória entre o vivo e o morto é plástica e é transparente.
Há uma imagem martelada na minha mente. Instalada com tamanha força que seria uma traição não a narrar. Fecho os olhos – suponho que ainda tenha olhos, talvez não passe de uma enganação do meu consciente lutando por um último gosto de estar vivo – consigo ver a próxima família na antiga casa dos Agustini.
Nenhum deles tem rostos ou uma voz, porém, vejo-os entrar com a esperança de começar uma nova vida num novo lugar, ao meio da natureza e longe dos perigos da cidade. Lá as crianças podem aprender a viver longe do caos da civilização urbana. Então, andando cuidadosos pelo chão inseguro jamais restaurado, encontram o jabuti na biblioteca, com seu sorriso malicioso que mais ninguém enxerga. A expectativa de quando descobrirão a real natureza do animal alimenta-me, mantém-me vivo depois do túmulo e da decomposição.
A única questão que deixa o amargo na minha boca – eu imagino ser a minha boca, pelo menos – é qual nome escolherão para o Astor.
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FRASES DE DUMBLBLEDORE

Harry Tiago Potter (31 de julho de 1980, Godric's Hollow, Grã-Bretanha) é um bruxo mestiço), filho único de James Potter e Lílian Potter (nascida Evans), é um dos bruxos mais famosos dos tempos modernos. Ele foi um dos estudantes mais famosos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts do seu tempo. Ele foi o único sobrevivente da Maldição da Morte, lançada por Lord Voldemort, que tentou matar ele quando bebê, o que causou sua primeira derrota e o fim da Primeira Guerra Bruxa, assim como deixando Harry órfão. Este foi levado para viver com os seus parentes trouxas, os Dursley, os únicos familiares de Harry ainda vivos.
Com onze anos, Harry soube através de Rúbeo Hagrid, o guardião das Chaves e das Terras de Hogwarts, que ele era um bruxo. Ele começou então a frequentar a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts onde, por meio do chapéu seletor, foi posto na Grifinória. Na escola, Harry tornou-se melhor amigo de Ronald Weasley e Hermione Granger. Ele tornou-se o mais novo Apanhador do último século, e eventualmente o capitão de Quadribol da sua equipe, o Time de Quadribol da Grifinória, ganhando duas Taças de Quadribol como parte da equipe.[12] Ele tornou-se ainda mais conhecido nos seus primeiros anos por proteger a Pedra Filosofal de Voldemort e por ter salvado Gina Weasley da Câmara Secreta. No seu quarto ano, Harry ganhou o Torneio Tribruxo, embora a competição tenha terminado tragicamente com a morte de Cedrico Diggory e o regresso de Lord Voldemort. No ano seguinte, Harry fundou, com relutância, a Armada de Dumbledore e lutou na Batalha do Departamento de Mistérios, durante a qual ele perdeu o seu padrinho, que era uma figura paterna para ele.
Harry desempenhou um papel significativo em muitas outras batalhas da Segunda Guerra Bruxa e caçou e destruiu as Horcruxes de Voldemort com Hermione Granger e Rony Weasley. Durante a Batalha de Hogwarts, ele pessoalmente testemunhou as mortes de Severo Snape e Fred Weasley, e descobriu que Remo Lupin, Ninfadora Tonks, Colin Creevey, e muitos outros também haviam morrido. Ele encontrou Voldemort e sacrificou-se, sabendo que era isso que Dumbledore havia planejado. Em uma espécie de limbo, Alvo Dumbledore deu a Harry conselhos; ele acordou e duelou com Voldemort uma última vez, e o derrotou
Depois da guerra, Harry se tornou um Auror, se casou com Gina Weasley , com quem ele teve três filhos: Tiago Sirius, Alvos Severo, e Lílian Luna. Harry também foi nomeado padrinho de Teddy Remo Lupin. Ele sentiu os efeitos da Maldição Cruciatus e da Maldição Imperius várias vezes. Ele também foi atingido por uma Maldição da Morte duas vezes, mas sobreviveu. Harry é também notável por ser o único Senhor da Morte conhecido, tendo unido as Relíquias da Morte.

Linhagem familiaredit | edit source

Os Potter foram uma família sangue puro antiga. Os Potter descendem da família Peverell, uma antiga linhagem bruxa, por Ignoto Peverell, que passou a Capa da Invisibilidade para os seus descendentes. Os Gaunt, descendentes de Salazar Sonserina, também descendem dos Peverell, pelo irmão de Ignoto, Cadmo, que passou a Pedra da Ressurreição como uma relíquia de família no anel de Servolo Gaunt, tornando Harry e Tom Riddle parentes muito distantes.
É também provável que Harry era distantemente aparentado, pelo lado do pai, aos Black, Malfoy, Weasley, e aos Longbottom[13], e quase todos as outras família de sangue puro, tornando-o distantemente aparentado a vários outros bruxos e bruxas, incluindo Belatriz Lestrange, Sirius Black, Ninfadora Tonks, e até seu própria futura esposa Gina Potter, embora o grau de ligação não é conhecido.

Infância

"Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças em nosso mundo vão conhecer o nome dele!"
—Minerva McGonagall discutindo o futuro de Harry Potter no mundo bruxo.
Harry Tiago Potter nasceu em 31 de julho de 1980, de Tiago e Lílian Potter, membros da primeira Ordem da Fênix na época da Primeira Guerra Bruxa, apenas algumas horas depois de Neville Longbottom, que viria a ser seu colega de classe.
Seus pais viviam na clandestinidade desde 1979, quando descobriram que Lílian estava grávida. Quando Harry nasceu, Lílian realizou um batismo; foi discreto e rápido, apenas ela, Tiago, Harry e Sirius como padrinho. Harry viveu sua primeira infância na casa dos pais em Godric's Hollow, no oeste da Inglaterra.
No primeiro aniversário de Harry, Sirius o deu uma vassoura de brinquedo. Na carta de Lílian para Sirius, ela menciona que este foi o presente favorito de Harry e que ele quebrou um vaso horrível que Petúnia a dera. Lílian e Tiago também fizeram um discreto chá de aniversário, convidando apenas Batilda Bagshot. Os Potter também tinham um gato, mas não se sabe o que aconteceu com ele após o ataque de Voldemort.
Para mantê-los a salvo do Lorde das Trevas, que os marcou para morrer depois de ouvir uma profecia que previa a sua queda nas mãos de um menino nascido no fim de julho, Alvo Dumbledore sugeriu que estes usassem o Feitiço Fidelius. Os Potter queriam que Sirius Black fosse o Fiel do Segredo, mas, seguindo o conselho dele próprio, transferiram esse papel para Pedro Pettigrew, achando que levantariam menos suspeitas. Por um terrível infortúnio, Pettigrew era um espião de Voldemort, e traiu os Potter, delatando-os para seu senhor. Na noite do dia 31 de outubro de 1981, Voldemort foi à casa dos Potter para matá-los. Matou primeiro Tiago, que tentou distraí-lo; mas, infelizmente, não tinha a varinha consigo, e foi morto imediatamente. O Lorde das Trevas então avançou para Lílian, que morreu tentando proteger o filho. Seu sacrifício impediu que a Maldição da Morte funcionasse em Harry, pois seu amor por ele era tamanho que se tornou uma barreira que protegia o filho. Quando Voldemort tentou matá-lo, a maldição ricocheteou, e, ao invés de atingir Harry, atingiu Voldemort, que perdeu todos os seus poderes e sua forma física foi destruída.
Voldemort só se salvou da morte graças às cinco Horcruxes que havia feito até aquele ponto: seu diário, o anel de Servolo, o medalhão de Slytherin, a taça de Hufflepuff e o diadema de Ravenclaw. Incluía-se também o próprio Harry, já que uma parte da instável alma de Voldemort prendeu-se a ele, dando-o algumas habilidades, como a ofidioglossia. Esse acontecimento transformou Harry na única pessoa que sobrevivera à Maldição da Morte, rendendo-lhe o título de "O Menino que Sobreviveu". O feitiço falho deixou uma cicatriz em forma de raio em sua testa, marcando-o como um igual de Voldemort. A cicatriz seria uma benção e uma maldição nos anos seguintes, pois abrira uma ligação telepática entre as mentes de Harry e de Voldemort, dando ao menino uma certa consciência dos pensamentos do inimigo.
Hagrid entregou Harry a Dumbledore na noite do dia 1 de novembro. Dumbledore deixou uma carta para os Dursley, explicando a situação, mas eles nunca a entregaram para Harry. Ao invés disso, fizeram o sobrinho passar a próxima década numa situação miserável, sem saber coisa alguma sobre o mundo bruxo. "A Harry Potter — O Menino que Sobreviveu."

Vida na Rua dos Alfeneirosedit | edit source

"Juramos quando o aceitamos que poríamos um fim nessa bobagem - disse tio Válter -, juramos que erradicaríamos isso nele. Bruxo, francamente!"
Harry começa a morar com os Dursley, e segundo o mesmo, morar naquela casa era a pior coisa no mundo. Como os tios de Harry eram trouxas, não possuíam qualquer entendimento de magia, e embora conhecessem a linhagem dele, não queriam ter nada a ver com ela. Os Dursley orgulhosamente se consideravam uma família "normal" e desprezavam qualquer coisa fora dos padrões da normalidade. Eles mentiram para Harry sobre a morte de seus pais, afirmando que eles haviam morrido em um acidente de carro. Diziam também que a cicatriz em forma de raio na testa de Harry (que era fruto da Maldição da Morte que falhou, que ele podia se lembrar vagamente em forma de um jorro de luz verde e uma risada alta e fria se 'forçasse sua memória'.) existia devido ao mesmo acidente. Ele tentou entender o que era e se vinha realmente do acidente, mas não conseguia, já que Válter e Petúnia o proibiam de fazer quaisquer perguntas, principalmente aquelas relacionadas aos seus pais. Além disso, os tios de Harry se recusavam a ter fotos de Lílian e Tiago na casa, e tentavam ao máximo evitar o assunto.
Eles repreendiam Harry por sua magia, que era esporádica, mas evidente. Eles desencorajavam fortemente qualquer tipo de imaginação. Os Dursley também abusavam mental e verbalmente de Harry (às vezes privando-o de comer) sempre que algo "estranho" ocorria. O modo como eles tratavam o sobrinho beirava a negligência, mas não chegou a ser reportado às autoridades. Em sua juventude, Harry podia fazer coisas estranhas acontecerem sem entender o porquê, e ninguém o disse que era bruxo. Uma vez, Petúnia raspou todo o bagunçado cabelo do menino, deixando-o quase completamente careca exceto por uma franja para esconder sua cicatriz, e todo o cabelo cresceu de volta na manhã seguinte, tão bagunçado quando antes. O garoto foi punido, mesmo não tendo feito nada. Outra vez, Dédalo Diggle curvou-se para ele numa loja, e Petúnia furiosamente o interrogou sobre como ele conhecia o homem.
Os Dursley mimavam seu filho Duda Dursley, e quase não prestavam atenção em Harry, sendo a pouca atenção negativa. Todas as suas roupas eram velhas, herdadas de Duda e muito largas para ele. Ele era obrigado a dormir no armário debaixo da escada, enquanto o primo tinha dois quartos (um para dormir e outro para guardar seus brinquedos). Eles faziam Harry fazer tarefas domésticas para eles, como fazer a comida. Duda maltratava o primo, e seus pais levavam ele e deu amigo Pedro Polkiss a lugares divertidos em todos os aniversários do filho, enquanto tudo o que Harry ganhava de aniversário eram meias velhas do tio.
Os Dursley escondiam a existência de Harry, não possuindo fotos dele na casa. Entre as poucas pessoas que sabiam dele estavam a amiga de Petúnia Ivone e a irmã de Válter Guida, que o menino era obrigado a reconhecê-la como tia apesar de não terem parentesco. Ao contrário do irmão, Guida demonstrava um forte desafeto pelo garoto quando visitava a Rua dos Alfeneiros. Exemplos disso são o aniversário de cinco anos de Duda, no qual a tia bateu em Harry para impedi-lo de ganhar de Duda em uma partida; feriados como o Natal, em que ela deu um robô computadorizado para o sobrinho e uma caixa de biscoitos de cachorro para Harry; e o décimo aniversário de Duda, quando Harry acidentalmente pisou na pata de seu cachorro Estripador, que o perseguiu até o jardim e o fez subir uma árvore, e Guida não fez Estripador parar até a meia-noite daquele dia.
Viver na casa dos Dursley, porém, era um mal necessário, pois, vivendo com a única parente viva de Lílian, a proteção que ela o deu na noite de sua morte persistiria. Enquanto ele pudesse encontrar ali um lar, ele não poderia ser ferido. Porém, a proteção se romperia quando ele completasse dezessete anos ou quando a casa dos Dursley não fosse mais seu lar.
Sem que Harry soubesse, uma de suas vizinhas, Arabella Figg, era um Aborto. Infelizmente para ele, para manter uma boa imagem com os Dursley, ela foi forçada por Dumbledore a ser extremamente chata com o garoto sempre que tinha que tomar conta dele, já que os Dursley nunca o deixariam ficar com ela se soubessem que ele estava se divertindo, uma possibilidade que os enfurecia. Harry descobria a conexão dela com o mundo mágico no verão antes de seu quinto ano na escola, enquanto ela o vigiava, cumprindo sua função de informar a Ordem da Fênix sobre seu bem-estar.
No dia 23 de junho de 1991, aniversário de onze anos de Duda, os Dursley foram ao zoológico com ele e seu amigo Pedro Polkiss. Infelizmente para eles, tiveram que levar Harry junto, já que a Sra. Figg havia quebrado a perna e eles não tinham onde deixá-lo e tampouco cogitavam deixar que ele ficasse sozinho em casa. No zoológico, Harry falou com uma jiboia brasileira e acidentalmente fez o vidro que a prendia sumir, assustando Duda. Ele usou a ofidioglossia com a cobra, que o agradeceu. Em casa, os enraivecidos Dursley o confinaram em seu armário.

Escola Primária St. Grogoryedit | edit source

"Na escola, Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda."
Harry frequentou a Escola Primária St. Grogory, uma escola trouxa, com Duda. Ele não tinha nenhum amigo, já que todos os alunos tinham medo da turma de Duda, que o odiava graças a ele. Os amigos de Duda até mesmo tinham uma brincadeira que consistia em perseguir Harry. Embora fosse bom em esportes, era sempre o último escolhido para um time; provavelmente porque ninguém queria admitir a Duda que gostavam de Harry e não porque este fosse ruim. Harry conseguiu notas, se não boas, decentes. Uma vez, ele fez a peruca de uma professora ficar azul acidentalmente, em outra, ele aparatou no terraço da escola enquanto fugia da turma de Duda. Se Harry não tivesse ido para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, ele teria frequentado uma escola secundária trouxa.

Descoberta de ser um bruxoedit | edit source

"Você é um bruxo, Harry. E vai ser um bruxo de primeira assim que tiver treinado um pouco."
Rúbeo Hagrid encontrando Harry pela primeira vez[fnt])
Harry não tivera nenhuma festa de aniversário até completar onze anos, o mesmo dia em que descobriu a verdade sobre quem era. Na semana do aniversário de Harry, centenas de cartas começaram a chegar na casa dos Dursley, endereçadas ao garoto e vindas de um local chamado Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Quando os Dursley viram que a carta estava destinada ao "armário debaixo das cartas" entraram em pânico com o pensamento de que seus maus tratos a Harry estavam sendo observados, e o transferiram para o segundo quarto de Duda, com medo de serem denunciados por abuso. Porém, as cartas continuaram a chegar, agora endereçadas ao "menor quarto".
Quando Válter viu a carta pela primeira vez, teve medo de que os bruxos estivessem tentando contatar Harry. Por isso, tentou inutilmente destruir as próximas cartas, para que Harry não pudesse lê-las. Contudo, as cartas continuaram chegando em quantidades cada vez maiores, até que dúzias delas atravessavam as janelas, portas e a lareira, e os Dursley não viam outra alternativa senão fugir delas. Mais uma vez, não foi o suficiente para barrar as corujas que continuavam chegando com cartas, e, no dia 30 de julho de 1991, desesperados, os Dursley fugiram para uma cabana numa pedregosa ilha no meio do oceano.
À meia-noite do dia 31 de julho, aniversário de Harry, Rúbeo Hagrid apareceu pessoalmente para descobrir porque ele não havia recebido sua carta. Ele ficou furioso quando descobriu tudo o que os Dursley fizeram com Harry, e, apesar dos protestos de Válter, contou a Harry que ele era um bruxo, como seus pais tinham morrido, que Dumbledore o havia mandado tirá-lo da casa destruída de seus pais, e que ele seria enviado à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Essa foi a primeira comemoração de aniversário de Harry, e Hagrid o deu um bolo de aniversário feito por ele, e mais tarde, uma coruja-das-neves, a qual o menino deu o nome de Edwiges, um nome que encontrou em seu livro de História da Magia. Hagrid levou o garoto ao Caldeirão Furado, onde ele percebeu que era famoso. Ele encontrou com Quirino Quirrell, seu futuro professor de Defesa Contra as Artes das Trevas; o estalajadeiro Tom, uma bruxa chamada Dóris Crockford; e Dédalo Diggle (o homem que curvara-se para Harry anos antes). Hagrid então o levou para o Beco Diagonal, onde ele aprendeu mais sobre sua fama no mundo mágico e que seus pais lhe deixaram uma pequena fortuna em um cofre no Gringotes, o banco bruxo.
Harry comprou sua primeira varinha naquele dia na loja de Olivaras. Ele testou várias até escolher a que queria, uma varinha de azevinho e pena de fênix, vinte e oito centímetros, boa e maleável. Mais tarde, descobre-se que a pena viera da fênix de Dumbledore, Fawkes, e que a varinha possuía uma gêmea, ou seja, outra com uma pena da mesma fênix, feita de teixo. A gêmea fora escolhida por Tom Riddle muito tempo atrás, que a utilizou para matar os pais de Harry. As duas varinhas possuíam uma conexão bem única, que as impediria de duelar uma contra a outra anos depois.

Anos em Hogwarts (1992-1997)edit | edit Dumbledore: "Harry, você sabe por que o Prof. Quirrell não suportou que você o tocasse? Foi por causa de sua mãe. Ela se sacrificou por você. E uma atitude como essa deixa uma marca... É uma marca que não pode ser vista. Ela está entranhada em você." Harry: "Que marca é?" Dumbledore: "Amor, Harry. Amor."

Alvo Dumbledore conversando com Harry[fnt])
Harry foi guiado pelo destino no dia 1 de setembro, quando os Dursley o deixaram na Estação King's Cross. Válter o ajudou a levar suas coisas à plataforma e saiu rindo, dizendo que a Plataforma Nove e Meia (ou Nove e Três Quartos, no filme) não tinha sido construída ainda, e deixou-o sozinho. Com apenas dez minutos restantes até o embarque, que era às onze da manhã, Harry entrou em pânico, sem saber onde estava a plataforma, até que entreouviu uma família de ruivos reclamando da estação cheia de trouxas, e notou que eles possuíam uma corujas entre seus pertences.
Harry viu garotos mais velhos atravessarem magicamente a parede entre as plataformas nove e dez. Nervoso, o garoto os interrompeu e foi apresentado ao filho mais novo Ronald Weasley ou simplesmente Rony, que também começava seu primeiro ano. Molly (mãe de Rony) gentilmente ensinou Harry a passar pela parede, e o garoto correu até ela, vendo o Expresso de Hogwarts pela primeira vez. Como quase todos os compartimentos estavam cheios, ele foi para um no fim do trem, e com ajuda da família de Rony, conseguiu embarcar.
Enquanto ajudavam, os gêmeos ruivos notaram a cicatriz na testa dele e o reconheceram como Harry Potter. Enquanto Harry se acomodava no compartimento, os irmãos Fred Weasley e Jorge Weasley reportaram sua descoberta à família, para o fascínio da caçula Gina e de seu irmão mais velho Percy, que era Monitor. Após o embarque, o trem subitamente partiu e Rony perguntou a Harry se poderia sentar com ele, que aceitou. Rony perguntou ao menino sobre sua cicatriz, que lhe mostrou, e então perguntou a Rony se toda a família dele era bruxa, que respondeu afirmativamente, à exceção de seu primo de segundo grau, que era contador. Quando uma funcionária passou vendendo lanches, HaRRY VENDO OS DOCES
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Uma Análise Sobre a Conduta Militar de Daenerys Targaryen (TRADUÇÃO)

Olá pessoas! (CUIDADO COM O TEXTÃO!)
Eu traduzi esse texto do inglês escrito pelo honorável Bryden Fish. Escolhi esse texto porque se trata de um dos meus temas favoritos nas crônicas:''militância'', (no sentido original da palavra,guerras e tal).E também porque ele fala da personagem que eu mais admiro,Daenerys Targaryen;
Ele basicamente enaltece as habilidades de estrategista militar de Dany e analisa o processo de Conquista das três cidades,que é uma coisa que as pessoas não comentam muito,não sei a razão.Mas a personagem se destaca muito nesta área e eu acho isso incrível pois se trata de uma mulher tão jovem,não lembro de tantas personagens femininas terem um papel como esse na cultura pop ou em qualquer obra fictícia,então é uma coisa que merece atenção.
Meu inglês é bem ruim então joguei logo na ferramenta do word e concertei da melhor maneira possível,perdão se algo ficar confuso mas acho que dá para entender.Cortei alguns trechos que não achei menos relevantes para esta discussão e dividi em duas partes pois é bem grande,espero que não seja cansativo de ler.De qualquer maneira, vou deixar o link do original e também do seu blog.Ele também fez análises militares de personagens como Jaime,Robb Stark,Stannis,vale a pena conferir.
Sem mais delongas:

Uma Análise Completa da Campanha na Baía dos Escravos (PART 1)

Uma Tangente em Papéis de Gênero

"Mulher?" Ela riu. "Isso é para me insultar? Eu devolveria o tapa, se o julgasse homem. Dany enfrentou seu olhar. "Eu sou Daenerys Stormborn da Casa Targaryen, a não queimada, Mãe dos Dragões, khaleesi dos cavaleiros de Drogo, e rainha dos Sete Reinos de Westeros."
ASOS 42: DAENERYS IV
(...) Discussão rápida sobre papéis de gênero primeiro e como eles afetam a percepção que outros têm da proeza militar de Daenerys, bem como sua própria percepção pessoal.
Um ponto de vista interessante antes de mergulharmos no material é a narrativa aparentemente simpática e a opinião muito dividida sobre a personagem entre os fãs. Se o arco da história de Daenerys pode ser resumido em uma única declaração, seria: Daenerys passa de uma jovem assustada para uma déspota militar benevolente no decorrer de cerca de 2 anos. Em Daenerys, GRRM criou uma personagem que foi projetada para evocar pena no início, depois simpatia, e em seguida, apoio. No entanto, muitos fãs da série não são fãs de Daenerys. Muitos até a desprezam. Por que isso?
Acho que grande parte da resposta vem através da recusa de Daenerys em servir papéis tradicionais de gênero (esposa, cuidadora, mãe) e optar por papéis mais tradicionalmente masculinos (Guerreiro, Líder). Também é interessante para mim que o possível crime de guerra que Daenerys comete em Meereen seja às vezes citado como um exemplo de sua loucura, enquanto os crimes de guerra de outros como Tywin Lannister são frequentemente elogiados por alguns fãs da ASOIAF como "males necessários para manter a ordem". Minha opinião é que Daenerys é vista de forma negativa por causa das construções culturais que temos para papéis de gênero – as mulheres são tradicionalmente nutridoras e aquelas que quebram seu papel social são rotuladas como histéricas ou loucas.
Curiosamente, os personagens da história tendem a refletir a mesma antipatia por Daenerys como alguns fãs fazem. A resposta de Daenerys é interessante e um tanto divertida. Metade do tempo, ela está usando normas de gênero para desviar de sua habilidade óbvia, afirmando ser " jovem que sabe pouco dos caminhos da guerra" e ainda outras vezes quando ela está em uma posição de força (como a citação de Daenerys IV), ela joga fora esta charada e mostra sua coragem.

Uma General precisando de um exército

"O que há para mim na Baia dos Escravos?"
"Um exército", disse Sor Jorah. "Se Belwas,o Forte lhe agrada tanto assim, podemos comprar mais centenas como ele fora nas arenas de lutadores de Meereen ... mas eu direcionaria minhas velas para Astapor.Em Astapor você pode comprar Imaculados.
ASOS 8: DAENERYS I
Inicialmente, Daenerys tinha uma grande horda Dothraki à disposição dela e de seu marido. Seu casamento com Khal Drogo garantiu cerca de 100.000 guerreiros Dothraki, guerreiros que Viserys III Targaryen, irmão de Daenerys, esperava usar na tentativa de retomar os Sete Reinos de Westeros de Robert Baratheon. A morte brutal de Viserys acabou com sua ambição, mas isso não acabou com o desejo de Daenerys de retomar os Sete Reinos. No entanto, a morte de Khal Drogo e o abandono da maioria de seu khalasar deixaram Dany com poucos apoiadores e menos soldados. Ela estava aparentemente condenada até que por um milagre de algum tipo, ela eclodiu 3 ovos de dragão. E então, Daenerys, seu grupo de seguidores e seus 3 dragões viajaram para leste em direção a Qarth, onde ela esperava garantir um exército em Qarth para a invasão de Westeros. Como se viu, ela foi rejeitada na cidade e acabou sendo convidada/instada a deixar a cidade antes que ela causasse mais destruição. Isso nos leva à jornada de Daenerys até a Baía dos Escravos.
Neste ponto da história, Daenerys está viajando para Pentos para ficar mais uma vez com Magister Illyrio. Sob seu comando, ela tem 3 dragões, 3 cavaleiros, um cavaleiro, um lutador de arenas e um "escudeiro". Ao todo, sua força militar é muito pequena para não ser notada com zombaria. Com essas ineficiências gritantes, Sor Jorah Mormont sugere que eles transformem o curso de Pentos para a Baía do Escravos para comprar um exército de Imaculados de Astapor.
Os Imaculados, como Jorah explicou, são alguns dos guerreiros mais ferozes de toda Essos. Como uma força de infantaria, eles não tinham a mobilidade rápida dos Dothraki, mas suas habilidades e disciplina mais do que compensaram isso. A história deles falou sobre isso. Na Batalha de Qohor, um pequeno exército imaculado numerado de 2.300 enfrentou um Khalasar Dothraki de 50.000. Apesar de estarem totalmente a pé e ter quase 70% de perdas na batalha, os Imaculados nunca quebraram.

"Dezoito vezes o Dothraki investiram, e quebraram-se contra aqueles escudos e lanças como ondas em uma costa rochosa. Três vezes Temmo mandou seus arqueiros cercarem os Imaculados e flechas caíram como chuva sobre os Três Mil, mas os Imaculados apenas levantaram seus escudos acima de suas cabeças até que a tempestade tivesse passado. No final, apenas 600 deles permaneceram, mas mais de doze mil Dothraki estavam mortos naquele campo, incluindo Khal Temmo, seus cavaleiros de sangue, seu kos, e todos os seus filhos. Na manhã do quarto dia, o novo khal levou os sobreviventes pelos portões da cidade em uma procissão imponente. Um por um, cada homem cortou sua trança e arremessaram-nas nos pés dos Três Mil.
ASOS 8: DAENERYS I
Estes eram o tipo de soldados que Daenerys precisava para reivindicar seu reino em Westeros. E Daenerys concordou em mudar o curso de Pentos para Astapor.

Abuso de Direitos Humanos como Casus Belli

"Tijolos e sangue construíram Astapor", Barba Branca murmurou ao seu lado, "e tijolos e sangue construíram seu povo."
"O que é isso?" Dany perguntou a ele, curiosa.
"Uma velha rima que um meistre me ensinou, quando eu era um menino. Nunca soube como era verdade. Os tijolos de Astapor são vermelhos com o sangue dos escravos que os fizeram.
ASOS 23: DAENERYS II
Influenciada por Jorah, Daenerys chegou a Astapor com planos de comprar cerca de 1000 imaculados trocando os presentes que Magister Illyrio lhe havia dado. Lá, Daenerys aprende como a nobreza astapori brutaliza sua população escrava.

"Para ganhar seu capacete de espigão, um Imaculado deve ir aos mercados de escravos com uma marca de prata, encontrar algum recém-nascido chorando, e matá-lo diante dos olhos de sua mãe. Desta forma, temos certeza de que não há fraqueza neles
Ela estava se sentindo fraca. O calor, ela tentou dizer a si mesma. "Você pega um bebê dos braços de sua mãe, mata-o enquanto ela observa, e paga por sua dor com uma moeda de prata?"
ASOS 23: DAENERYS II
Indignada com este e outros abusos de direitos humanos alegremente descritos pelo escravista Kraznys mo Nakloz, Daenerys de alguma forma manteve sua compostura e concordou em pensar sobre a proposta dada pelos Astapori. Mesmo quando ela enfrentou sua decisão, a indignação que Daenerys tem foi inteiramente genuína. E do ponto de vista ético, não posso culpa-la. Astapor é construída sobre o próprio mal. Dito isto, a indignação moral de Daenerys terá efeitos estratégicos de segunda e terceira ordem que são vantajosos para Daenerys. Mas chegaremos a isso em breve.
O paralelo moderno do abuso dos direitos humanos como justificativa moral de uma guerra é aquele que a maioria de nós está familiarizado. Dos Balcãs ao Iraque até, mais recentemente, a Síria, este tipo de intervenção militar é agora visto como um dos poucos casus bellis para a guerra. Sem se aprofundar muito na política de tudo isso, as ações de Daenerys pelo resto do ASOS parecem um pouco anacrônicas para um cenário medieval.

Superarmas e liberdade

Dany girou o chicote na mão. Uma coisa tão leve, com um peso tão grande. “Está feito, então? Eles pertencem a mim? "
ASOS 27: DAENERYS III
Mas, voltando à história, todos nós sabemos que o plano de Daenerys nunca era se separar de nenhum de seus "filhos". Seu plano era traição. Os Imaculados estavam alinhados na praça principal de Astapor e Daenerys trouxe todos os seus tesouros (exceto sua coroa) junto com seus dragões. Quando a troca foi finalmente feita, a traição começou.

“Drogon,” ela cantou em voz alta, docemente, todo o seu medo esquecido. "Dracarys."
"Imaculados!" Dany galopou na frente deles, sua trança prata-ouro voando atrás dela, seu sino tilintanto a cada passo. "Matem os Bons Mestres, matem os soldados, matem todos os homens que usem um tokar ou segure um chicote, mas não machuque nenhuma criança com menos de 12 anos e arranquem as correntes de cada escravo que vocês virem. " Ela ergueu os dedos da harpia no ar. . . e então atirou o acoite para longe. "Liberdade!" ela cantou. “Dracarys! Dracarys! ”
ASOS 27: DAENERYS III
E assim Daenerys desencadeou o equivalente medieval das armas nucleares em Astapor. O fogo do dragão rugiu através dos nobres Astapori reunidos enquanto os Imaculados massacravam todos os escravistas Astapori. (Nota lateral: a série da HBO fez um excelente trabalho ao retratar esta cena .) Então, Daenerys declarou guerra contra toda a prática da escravidão na Baía dos Escravos e efetivamente entrou em conflito com as outras duas cidades escravas da região (Yunkai e Meereen) .
Em termos militares, os dragões que Daenerys possui são multiplicadores de força , ou seja, um atributo militar que aumenta a eficácia de uma determinada força. Os dragões também serviram como um potente aviso para qualquer inimigo em potencial da destruição que poderia esperar por eles se decidissem lutar contra Daenerys. Mas, como veremos em partes posteriores, esse aviso não será atendido.
(...)

Soldados Escravos vs. Soldados Livres

Forças Amigáveis

''Eu disse-lhes que eram livres. Não posso dizer a eles agora que não estão livres para se juntarem a mim'''. Ela olhou para a fumaça subindo de suas fogueiras e engoliu um suspiro. Ela pode ter os melhores soldados de infantaria do mundo, mas também tinha os piores.
ASOS 42: DAENERYS IV
Com Astapor reduzida a escombros, Daenerys partiu em uma guerra de libertação na Baía dos Escravos. Felizmente para ela, ela agora tinha algo parecido com um exército. O que distinguiu seu exército dos outros militares da região foi que seu exército era composto por homens livres. Aqui, eu vou parar e escrever uma tangente um pouco extensa sobre a diferença entre tropas recrutas e uma força voluntária.
O exército de Daenerys tinha uma qualidade única que faltava a outros militares: soldados bem treinados e bem disciplinados. Os soldados recém-libertados de Astapor conhecidos como Imaculados decidiram permanecer com Daenerys como um exército de libertos. E esses soldados eram organizados e disciplinados de maneiras incomparáveis na região. Antes da batalha em si, esta disciplina é melhor vista através da construção das tendas imaculadas fora de Yunkai.

Dentro do perímetro que os Imaculados tinham estabelecido, as tendas estavam subindo em filas ordenadas, com seu próprio pavilhão dourado alto no centro.
ASOS 42: DAENERYS IV
E embora seja fácil descartar isso como decorativo de cena, acho que GRRM está mostrando que a disciplina dos Imaculados será fundamental em seu estilo de luta. Antes de pensar que isso não é importante para conduzir uma guerra, a disciplina, mesmo em algo tão simples como a criação de um espaço residêncial,reforça uma mentalidade de ordem.
Mas mais do que simplesmente ser bons soldados que mantinham boa disciplina, os Imaculados que Dany tinha eram melhores soldados por causa da motivação. Dada a oportunidade de liberdade, eles escolheram servir livremente Daenerys em suas guerras na Baía dos Escravos. De muitas maneiras, vejo os Imaculados como uma força semelhante à força hoplita ateniense (...). Os hoplitas eram cidadãos-soldados. Eles não foram forçados a lutar. Eles lutaram livremente e em nome de suas cidades. (...)
Forças Inimigas
Durante a Campanha da Baía dos Escravos, Daenerys lutou consistentemente contra dois tipos de soldados. Primeiro foram as empresas de mercenários.O que faltava ao continente de Essos em exércitos profissionais localizados, mais do que compensava em empresas mercenárias à venda. A vantagem que esses soldados tinham era em seu profissionalismo. Sua ferocidade e brutalidade eram vantagens adicionais. A desvantagem era que sempre havia um maior licitante e, caso enfrentassem uma força com tamanho/habilidade maior, muitas vezes fugiam do campo ou mudavam para o lado vencedor.
(...)
A segunda força eram escravos forçados a servir. A única população que as Cidades Escravas tinham em abundância eram bem... Escravos. (desculpe pela tautologia). Mas os exércitos de escravos que Yunkai ostentava não eram iguais à força de Imaculados que Daenerys tinha. Na verdade, os soldados escravos de Yunkai não eram conhecidos por sua habilidade marcial.

Seus oficiais pareciam indistinguíveis de Astapor à distância; lemes brilhantes altos e mantos costurados com discos de cobre piscando. "São soldados escravos que eles lideram?"
"Em grande parte. Mas não se igualam aos Imaculados. Yunkai é conhecida por treinar escravos, não guerreiros."
ASOS 42: DAENERYS IV
E assim, Daenerys se preparou para lutar contra essas duas forças únicas. A vantagem parecia estar ao seu lado.

Decepção: Enganando Yunkai

"O que você diz? Podemos derrotar este exército?
"Facilmente", disse Sor Jorah.
"Mas não sem sangue."
ASOS 42: DAENERYS IV
Yunkai foi a segunda cidade na lista de sucessos de Daenerys. Após o saque de Astapor, Daenerys marchou seu novo exército e seguidores variados em direção a Yunkai. Esperando por eles havia duas empresas de mercenários e um grande contingente de soldados escravos.
Antes de se envolver em uma batalha real, enviados das duas empresas e da própria cidade chegaram para negociar com Daenerys. Os Corvos Tormentosos foram os primeiros a chegar. Depois de ameaçar,Daenerys informou que seu exército atacaria "amanhã". Os próximos a chegar foram os Segundos Filhos. Com eles, Daenerys tentou persuadi-los a mudar de lado. Quando não o fizeram, receberam uma carroça de vinho e foram enviados em seu caminho. Os últimos a chegar foram os próprios yunkaístas. Eles tentaram subornar Daenerys com baús de ouro. Ela informou que eles teriam 3 dias antes de ela atacar.
Estes diferentes ultimatos, promessas e ameaças foram todos destinados a semear o nível máximo de confusão entre os defensores de Yunkai. E funcionou. Daenerys convocou seus cavaleiros de sangue e seu conselho e revelou sua verdadeira intenção.
Dany sentou-se em um monte de almofadas para aguardá-los, seus dragões tudo sobre ela.
Quando eles foram reunidos, ela disse: "Uma hora depois da meia-noite deve ser tempo suficiente."
"Sim, Khaleesi", disse Rakharo. "Tempo para quê?"
"Para montar nosso ataque."
ASOS 42: DAENERYS IV
Para tornar a situação ainda mais brilhante, pouco antes do início do ataque, um dos comandantes dos Corvos Tormentosos desertou para o lado de Daenerys. Daario Naharis desertou, matou os outros comandantes e trouxe o restante dos Corvos Tormentosos para o lado de Daenerys.
O plano de ataque era simples e ousado. Os Imaculados,Corvos Tormentosos e Dothraki atacariam sob a escuridão. Na era moderna,na visão noturna com lasers e armas, lutar à noite é uma tarefa mais fácil. Mas em um cenário quase medieval, a luta noturna é difícil e traiçoeira. Para aqueles que já foram acampar em uma área remota, você pode estar familiarizado com o quão escura a noite pode ser. Mesmo com a luz ambiente, é difícil ver mais do que alguns passos à sua frente. Também é muito fácil para um indivíduo (e um grande exército) se perder na escuridão. No entanto, Daenerys tinha um plano que guiaria seu exército para os campos yunkaístas e mercenários.

''Os Segundos Filhos ficarão bêbados com o vinho que dei a Mero. E os Yunkaitas acreditam que têm três dias. Vamos pegá-los sob a cobertura desta escuridão.''
"Eles terão batedores nos vigiando."
"E no escuro, eles verão centenas de fogueiras queimando", disse Dany. "Se chegarem a ver alguma coisa."
ASOS 42: DAENERYS IV
Para aprofundar este ponto, Daenerys faz menção explícita em seu monólogo interno de dados meteorológicos e de luz.
Prometia ser uma noite sombria; sem lua, sem estrelas, com um vento frio e úmido soprando do oeste. Uma bela noite negra, pensou Dany.
ASOS 42: DAENERYS IV
O olho humano é naturalmente atraído pela luz e pelo movimento. Em um ambiente noturno, o movimento é obscurecido pela falta de luz. Além disso, as fogueiras atrairiam a maior atenção dos defensores mais provavelmente cansados de Yunkai. Além disso, com as exigências conflitantes de Daenerys, os soldados nos campos e os batedores designados para vigiar o perímetro provavelmente estavam entediados e despreparados para seu exército. E, finalmente, não havia luz ambiente disponível para os defensores verem um exército se aproximando.
Assim, com o campo de visão do inimigo obscurecido e os defensores de Yunkai confusos sobre suas intenções, Daenerys enviou seus comandantes subordinados para lutar durante a noite. Enquanto ela ouvia histórias de Rhaegar de Barristan Selmy, seu exército atacou Yunkai e os mercenários. O resultado deste ataque foi uma vitória esmagadora para Daenerys. Com apenas uma dúzia de perdas, seu exército esmagou os Yunkaistas e os merecenários fora das muralhas de Yunkai, fazendo cerca de 200 mortos do exército inimigo.
Capitulando
Após a derrota, os Yunkaistas desistiram de lutar no momento. Eles capitularam a todos os termos de Daenerys que incluíam:
Os escravos marcharam para fora de Yunkai e juraram lealdade à sua "mãe". Com Yunkai agora subjugada, Daenerys agora se voltou para o maior prêmio da Baia dos Escravos: Meereen.
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Ensaios sobre a Solidão e a Identidade

Primeiro ensaio: a infância
I
Eu tive a rara oportunidade de observar como uma criança desenvolve os primeiros sentimentos de amargura. Esse sentimento, visto abertamente em grupos, mas tão escondido nas pessoas, parece surgir do nada. Num momento não odiamos, noutro já somos avessos à cor, cabelos, palavras e lugares. É como ver uma poça secando, elas não evaporam até que tiremos os olhos. Não importa a paciência, é no segundo de distração que o fenômeno se completa.
Na época, eu era diretor e professor do colégio S**** e as turmas que mais me agradavam eram as dos alunos que estavam entre os onze e doze anos. Tinham acabado de terminar o ensino primário e mostravam renovação da vitalidade intelectual. Uma em especial, de crianças que até então haviam percorrido toda a vida escolar juntas, mostrava-se ainda mais animada, solidária e disciplinada, a 5ºB[1].
O líder dessa turma era Nícolas: um pequeno de expressões amassadas e finos cabelos loiros. Em qualquer lugar do mundo onde o loiro é comum, seria um garoto feio, mas aqui, nos trópicos, onde qualquer mecha amarela é sobrevalorizada, diziam que era bonitinho. Andava de peito estufado e queixo para cima, sempre procurando saber como estavam os colegas e resolvendo conflitos.
Para ilustrar sua maturidade e postura, veja esta passagem que aconteceu dias depois do início das aulas:
Entrei na sala e avistei Nícolas acalmando dois colegas, um deles tinha a camisa de uniforme rasgada.
Eu quis saber o que havia acontecido:
— Tio Mário! — era assim que me chamavam — não foi nada, já resolvemos tudo — disse-me Nícolas pedindo que os outros dois se calassem.
— Mesmo que já tenham resolvido, preciso saber o que aconteceu.
Nícolas deformou o rosto.
— Foi tudo por inveja — ele começou assim, me deixando assustado com tamanha maturidade — o Carlinhos trouxe pro colégio uma coisa e depois tentou impressionar os amigos. Vinícius, que é um pouco mais nervoso do que deveria ser, se enfureceu, então entraram numa briga rápida, mas te garanto, já estão em paz, tio Mário.
Nícolas lançou-lhes um olhar e logo os dois se abraçaram e sorriram.
— Por que seu uniforme está rasgado? — perguntei ao Carlinhos.
— É que... — tentou respondeu, mas de novo Nícolas tomou a palavra.
— Foi outro erro, um engano. Vinicíus usou força demais pra tentar tomar das mãos do Carlinhos a tal coisa, mas acabou errando a mira e isso aconteceu — apontou para o uniforme rasgado — não brigaram mais depois disso, não é verdade? — concordaram.
— Pois bem... — eu continuei — e que ‘coisa’ seria essa? Posso ver?
— Infelizmente não, Tio Mário — respondeu-me Nícolas categórico. Deixei escapar um sorriso diante da afronta — te garanto que a coisa já está comigo e não vai mais causar nenhum problema. Como eu disse: está tudo resolvido.
— Eu preciso saber o que é. Vamos, Carlinhos, abra a mochila.
— Já disse, Tio Mário, não está mais com ele, está comigo, dentro da minha mochila — fez questão de ser enfático — as regras do colégio dizem que os professor não podem mexer nas nossas mochilas, a não ser que saibam de alguma coisa ilegal.
— Justamente, sei que a coisa está na sua mochila, então faça o favor de abri-la, vamos.
— Mas eu nunca disse que a coisa é ilegal.
— É verdade — sussurrou uma garota nos fundos.
— Me desculpa, Tio Mário, mas não vou abrir a mochila.
Nunca fui conhecido como um diretor disciplinador e, de qualquer forma, não me achava no direito de quebrar aquela lógica. Eu estava orgulhoso, havia me derrotado, portanto eu deveria agir de acordo.
— Se é assim... — disse virando-me para o quadro. Senti que comemoravam silenciosamente e ovacionavam Nícolas aos gritos surdos.
Naquele mesmo dia, à noite, Nícolas tocou a campanhia do meu apartamento. Morávamos no mesmo prédio.
Ele tinha um daqueles videogames portáteis nas mãos, da marca Nintendo. Muito sério, me pediu desculpas:
— Nunca quis desafiá-lo, Tio Mário, mas eu precisava proteger meus colegas. Hoje, depois de chegar da escola me senti mal te escondendo a coisa, aqui está.
Videogames eram proibidos no colégio, claro, mas não dei continuidade. Só pedi que me dissesse a verdade sobre a briga, o que realmente tinha acontecido, deixando claro que não tocaria mais no assunto.
— É muito importante não dar atenção a essas coisas, elas podem crescer — ele disse como se estivesse me ensinando um conhecimento raríssimo — Vinícius e Carlinhos nunca se deram bem, isso porque o Carlinhos é o mais rico da turma e o Vinícius o mais pobre. É o que eu disse, a inveja. Só que não é só do Vinícius, porque se fosse, eles não brigariam. O problema é que o Carlinhos sente inveja do Vinícius por causa da Maria do Banheiro.
— Maria do Banheiro?
— Sim. Ano passado alguém contou que havia um jeito de chamar um espírito no banheiro do colégio. Tínhamos que apagar as luzes, dar três descasgas e chamar, olhando o espelho ‘Maria do Banheiro’, ‘Maria do Banheiro’, ‘Maria do Banheiro’, três vezes. Se fizéssemos certo, ela apareceria.
— O Vinícius fez isso?
— Todos fizemos, quase a turma inteira, algumas garotas não tiveram coragem, mas nos enfiamos no banheiro quase todos no intervalo — ele continuou — eu mesmo apertei as descargas e depois a Raquel chamou o espírito no espelho do banheiro, foi então que... escutamos um estrondo, não sei dizer o que era. Claro que todos nós corremos, mas o Vinícius não. Ele ficou lá, acredita? E ele jura que viu o vulto da Maria do Banheiro. Desde então ele é o mais corajoso da turma. Já o Carlinhos... foi o único dos garotos que não teve coragem de entrar no banheiro.
— Então os garotos ficaram pegando no pé dele?
— Não precisou. Quando esse tipo de coisa acontece, nem precisa pegar no pé pra pessoa ficar ofendida e ressentida. Todos nós, os garotos, ficamos falando sobre nossos susto e como foi dar as descargas e o clima do banheiro antes do estrondo da Maria do Banheiro. Só falávamos disso durante umas duas semanas, mas Carlinhos não tinha como participar, entende? Por duas semanas ele não era mais da turma e criou raiva do Vinícius, que era sempre exaltado — ele fixou os olhos num ponto, como se pensasse — pra falar a verdade, depois daquelas duas semanas, parece que Carlinhos mudou muito, ficou diferente e nunca mais voltou a ser da turma como antes.
A voz da mãe de Nícolas explodiu nas escadas dizendo que o jantar estava pronto. Pedi que ele me avisasse caso Carlinho e Vinícius brigassem de novo e deixei que fosse embora.
Observei o desenrolar daquela história e vi com nitidez o esforço de Nícolas para aproximar Carlinhos da 5ºB de novo. Apesar das sucessivas investidas, convites para jogos e projetos, Carlinhos se distanciava cada vez mais da turma e encontrava companhia num grupo de cinco garotos da 5ºA. Passavam os intervalos juntos no quiosque do pátio trocando cartas de Pokemon. Mesmo que as coisas tenham se saído assim, o semestre desenrolou-se sem mais conflitos.
II
Durante as férias, tive uma ideia e de antemão digo que foi péssima.
Na contramão da 5ºB, tínhamos no colégio uma das piores turmas com a qual já havíamos trabalhado: a 5ºA. Os pequenos, quase todos desconhecidos uns dos outros antes do primeiro dia de aula, haviam entrado num clima contagiante de violência e dedicavam a maior parte do tempo brigando por poder.
Como é comum entre as meninas, os conflitos se davam à base de difamações, roubos e depredações. O motivo era sempre o mesmo: tinham aversão à personalidades, interesses ou belezas diferentes.
Já entre os meninos a situação era ainda mais preocupante. Esses, divididos precocemente entre as torcidas de dois times de futebol, trocavam socos, organizavam emboscadas e aliciavam os raros alunos que queriam ficar de fora daquela insanidade.
Presenciei uma cena horripilante: estava descendo as escadas das salas de aula para o pátio dos alunos do Ensino Médio, quando vi as mãos de um garoto entre as grandes que dividiam os alunos pequenos dos adolescentes. Ele se esticava todo tentando entrar de qualquer maneira, se enfiando desesperado entre as hastes de ferro e suplicando pelo irmão mais velho. Eu e todos os adolescentes ficamos imóveis, sem saber o que estava acontecendo. Por que havia uma criança explodindo em lágrimas como se estivesse alucinada?
Em instantes, um outro pequeno, corpulento, surgiu correndo como um rinocerante e trombou contra ele, ombro contra ombro. Infelizmente ele estava com o braço direito entre as grades, implorando pelo irmão, de modo que o violento impacto partiu os seus ossos na altura do cotovelo. O pequeno urrou ainda mais alto, um grito de dor excruciante.
— Ítalo! — gritou seu irmão correndo para socorrê-lo — O portão! Abram!
Eu tinha as chaves, então corri e socorri o pequeno. No caminho ao hospital, ele me disse:
— Foi uma emboscada, Tio Mário, mas quando eu voltar, ele vai ver!
Não dormi aquela noite, o que havia se tornado a 5ºA?
O pequeno agressor, o rinoceronte, foi expulso do colégio, mas isso só deixou a violência pior, cada lado sempre buscava motivos para retaliação. A expulsão de um aliado era razão de sobra para mais agressões.
Foi então, nas férias, que tive a ideia:
A 5ºB tinha resultados excelentes, eram disparados os melhores alunos. Além disso, como já disse: eram solidários, disciplinados e curiosos. Todos os professores tinham imenso prazer em dar aulas ali. Claro que isso era fruto de anos de convivência, mas também já havia visto muitas turmas que cresceram juntas e nenhuma delas tinha o mesmo desempenho. Dessa forma, para mim, aquela turma só era aquela turma por causa do Nícolas.
Decidi, então, transferir Nícolas para a 5ºA. Tinha esperança que sua maturidade e genialidade me ajudassem a controlar os pequenos corrompidos.
Eu mesmo fui informá-lo, bem como aos seus pais, em sua casa. Sentados na sala, contei a eles que planejava a transferência de Nícolas, mas não expus o real motivo. Usei como justificativa o crescimento dele diante de novas pessoas, jurei estar preocupado com o seu desenvolvimento tendo em vista a zona de conforto do convívio com os mesmos colegas ali, ano após ano.
— Mas o Nícolas se dá tão bem com eles e nós também já conhecemos todos! — disse a mãe.
— Eu entendo, mas não seria melhor para ele aprender a conviver com garotos diferentes? Sabem, não faço essa proposta para todos os alunos, só para o Nícolas, já que ele é o mais brilhante da turma inteira. Mas fico receoso apenas com esse detalhe na sua formação, e se no futuro, quando for obrigado a se separar dos amigos não conseguir conviver com mais ninguém? E se ficar perdido? Já vi isso acontecer antes, crianças acostumadas a sempre ter as mesmas companhias, quando mudam de escola ou cidade se tornam depressivas e improdutivas. Não seria melhor já nos precavermos? Tudo seria feito, claro, sob minha supervisão.
Durante todo tempo em que conversamos Nícolas não abriu a boca. Finalmente, quando a mãe disse que ainda precisava pensar, ele declarou:
— Quero mudar de turma — isso bastou para que tudo se resolvesse.
Fiquei curioso sobre os motivos da sua decisão, mas foi só mais tarde que tive a resposta.
III
Na 5ºA existia uma pirralha de cabelos ralos vermelhos e olhos fundo. Me dou a liberdade de chamá-la assim, pirralha, por causa dos prejuízos que essa pequena já me causou. Não só a mim... não só a mim. Eu escutava seu nome dia sim, dia não no escritório, era sempre alguém alguém segurando o choro por causa de uma humilhação sofrida. Como estou apresentando meu alunos e as figuras principais desse estudo sobre o início da amargura e da solidão, vamos a mais uma. Um episódio envolvendo Camilla.
Na frente do colégio existia uma barraquinha onde vendiam lanches e sorvetes. Era lá que os alunos se juntavam no crepúsculo, depois das aulas de educação física. Se no colégio acumulavam poder, era lá que o usavam, era o espaço onde a demonstração de dominância se tornava mais óbvia, onde os líderes se pavoneavam e as regras do colégio eram deliberadamente quebradas satisfazendo-os a sede de liberdade.
Eu já ia embora, despedia-me do segurança que girava a chave na fechadura quando uma pequena veio correndo em minha direção, pálida e prestes a chorar.
— Preciso entrar no colégio.
— Esqueceu alguma coisa?
— Não, minha mãe só pode me buscar mais tarde e não posso ficar aqui, tenho que entrar no colégio.
Ela levava a mochila presa aos dedos nas costas, balançando ao longo das pernas e batendo contra os tornozelos sempre que andava.
— Mas... não é ali que sua mãe sempre te pega? — apontei para a lanchonete.
Nesse momento, vi a Camilla, ela olhava para a cena em que eu era um dos atores e compartilhava com as amigas uma risada de satisfação.
— Vamos, pode me contar... o que está acontecendo?
— É que... eu sujei minha calça. Tô menstruada. Não posso ficar lá com todo mundo, ainda mais porque a Camilla viu e contou pra todo mundo.
Perdi o compasso da respiração, que pirralha!
— Isso acontece, quanto tempo sua mãe demora?
— Uns vinte minutos.
— Espero com você.
Pedi que o segurança abrisse o colégio de novo, entramos e nos sentados nos primeiros bancos, com vista para a rua. Os cabelinhos ruivas da Camilla haviam se tornado um risco vermelho do outro lado da rua.
— Sempre deixamos alguns absorventes na administração para o caso das alunas esquecerem.
— Não esqueci.
— Ah sim, só... esqueceu de...
— Também não — ela baixou a cabeça — olha, se eu contar promete que não faz nada?
— Fazer nada?
— É, não vai dar uma de diretor.
— Não posso prometer deixar de ser diretor da escola, Luana.
— Então deixa.
— O que a Camilla fez agora?
Ela arregalou os olhos.
— Como sabe?
— Só um palpite.
— Ela sabia que eu tava menstruada e roubou meu absorvente. Quando fui trocar não tinha mais, daí arrisquei ficar sem e deu no que deu. Ela ficou me olhando ainda, só esperando pra ver se ia vazar. Fez isso porque eu fiz uma piada com ela ontem, tenho certeza. Mas você não pode fazer nada, não vai chegar nela e perguntar se ela roubou meu absorvente. Se ela souber que eu dedurei, vai fazer da minha vida um inferno. Acho que ela vai parar por aqui, só isso e pronto, graças a Deus.
Alguns minutos depois um carro sedan parou do outro lado da rua, em frente à lanchonete. Luana me avisou que era a mãe, então saímos do colégio. Fiquei a meia distância vendo-a ir com a mochila batendo contra os tornozelos até o carro. Na lanchonete, Camilla levantou-se com um absorvente nas mãos.
— Luana, aqui! — gritou vocalizando em direção à mãe dela, que aguçou os ouvidos para entender o que estava acontecendo — não sabe o que aconteceu! — disse Camilla à mulher — os outros avermelhavam-se contendo o riso — ela se sujou, esqueceu de trocar o absorvente.
Luana parou no meio do caminho. Sua mãe, ainda confusa, desceu do carro e a encontrou ali, estática.
— Deixa eu ver — disse a mulher.
— O quê?
— Deixa eu ver a mancha.
— Por favor... não.
A mulher a agarrou nos ombros e a virou, depois curvou-se ajeitando o ângulo para fazer sua valiação. Os pequenas na lanchonete amontoavam-se curiosos para ver algo parecido como o mapa do Brasil em vermelho morto entre as pernas da garota.
— Vamos precisar de uns guardanapos, pega lá pra gente — a mulher disse a Luana.
— Eu pego! — respondeu Camilla entregando um maço de folhas brancas.
— Obrigada. Você não achou que ia entrar no meu carro desse jeito, não é? Coloca no banco — entregou as folhas à Luana.
Foram embora e eu fiquei ali por mais dois minutos olhando aqueles pequenos da 5ºA. Me notavam, claro, mas fingiam que não. Ali tinham liberdade, a liberdade de fazer esse tipo de coisa. A liberdade da humilhação, da coerção e da agressão. A liberdade de concentrar o poder e destruir a própria liberdade.
O maior erro do meu plano foi não ter investigado direito o que se passava no coração de Nícolas. Seu desejo de mudar para a 5ºA residia somente no fato de que ele havia se apaixonado por Camilla. Foi tarde que descobri isso.
IV
Nícolas está morto, suicidou-se aos vinte de dois anos. Não saiu nos jornais, tive notícias da famílias, que já não eram meus vizinhos, só um mês depois, mas eu já sabia. No dia de sua morte recebi um email, nele Nícolas me explicava o que já havia feito e me entregava seu diário. Estava escrito assim:
“Tio Mário, lembra quando eu te chamava assim? Faz tempo, mas eu ainda me lembro, principalmente do ano em que estava na 5º série. Foi um ano especial, num semestre eu tinha algo e no outro não. Acho que cometemos um erro, nós dois. Mais eu do que você, claro, sempre tive a escolha, mas é que você também me deu um espaço, sabe, se não tivesse dado, tudo não teria acontecido.
Não quero colocar a culpa em você, mas é inevitável, principalmente depois que descobri o plano de me usar para salvar aquela turma, que ilusão, só o que conseguiu foi fazer eu me perder. Eu tinha o que as pessoas buscam desde que se entendem por gente, a coletividade individual, um grupo que me tirava da solidão, mas que era tão integrado e diferente de todos os outros que me dava a identidade. Tínhamos a identidade coletiva, tio Mário, uma condição transcendental que muitos acham que não passa de uma fantasia. Claro que é uma fantasia, só pode existir se a individualidade ainda não tiver nascido.
Eu fui e deixei meu paraíso por amor, a ideia de amor, o desejo, que seja! Acho que uma criança aos doze anos sente desejos, não sente? Pode não ser os mesmos que nós, os adultos, sentimos, mas ainda assim... E o senhor, qual a sua justificativa? A ignorância, tenho certeza. Não sabia o que ia acontecer, achou mesmo que eu poderia mudar a mente de trinta crianças que nunca haviam conhecido nada fora delas mesmas, que entendiam a associação como domínio.
Fui quebrado para sempre, uma mudança na sintonia das ondas e eu nunca mais consegui me conectar aos antigos amigos, havia experimentado o que era ser um indivíduo. Eles mesmos foram distorcidos com a minha ausência, você estava certo sobre meu papel direcionador, sem mim o grupo se desfez e viramos todos... humanos.
Com a solidão seria possível conviver, todos convivem, mas o problema que se tornou insustentável foi a amargura. Eu já conheci o que é ter os dois mundo: a identidade na coletividade ou a coletividade sem a ideia de identidade. Então não é possível continuar.
Tudo já está feito, provavelmente há três dias. Já estou enterrado, por favor não procure meus pais, será inútil.
Segue em anexo uma fração do meu diário que mantive durante minha mudança para a 5ºA, talvez possa te servir.”
Lendo o email, lembrei-me de uma das últimas vezes em que vi Nícolas, anos depois dele ser transferido de colégio por causa de um evento trágico que irei narrar um pouco mais adiante. Ele me procurou em meu apartamento, ainda éramos vizinhos, estava já bem diferente do que costumava ser, melancólico e conversava sem conseguir me olhar nos olhos como fazia antes. Tinha dezoito anos.
Ele me disse que havia entendido todos os problemas do mundo.
— Todos os problemas do mundo podem ser resumidos a duas forças, eu acho — disse na soleira, como se estivesse só passando para entregar uma mensagem — a identidade e a solidão. Quanto mais as pessoas procuram pela identidade, mais solitárias ficam e quanto mais elas elas procuram se livrar d solidão, mais perdem a identidade e desintegram o ser. Então não existe apenas um tipo de angústia, como disseram alguns filósofos, existem dois tipos e é por isso que ela está sempre lá. Se fosse só um tipo, poderíamos trabalhar para saná-la, mas não, são dois, uma contrária a outra. Isso é lógico — eu estava me esforçando para entender aquele monólogo repentino — como eu disse, todos os problemas do mundo podem ser entendidos assim, descobri isso na 5ºA e depois de pensar muito sobre o que aconteceu. Lembra da 5ºA? Eu lembro.
— Espera um segundo, entra, vamos nos sentar. Não estou conseguindo me concentrar assim.
Ainda de cabeça baixa ele se sentou sobre as almofadas do sofá e aceitou um copo com água. Parecia nervoso, balançava-se.
— Estou com pressa, só preciso te dizer isso. Tenho que ir. Quero te dizer dos problemas do mundo.
— Sim, pode falar.
— Vi na televisão um político que foi preso por corrupção. O jornal disse que ele já era muito rico, mas que mesmo assim continuava a elaborar esquemas de corrupção. Tentaram fazer uma estudo sobre a cabeça de pessoas que agem assim, mas erraram. Disseram que o poder vicia e que por isso esse tipo de coisa acontece. Não, estão errados, não entenderam as duas angústias.
— E você sabe explicar isso melhor? — perguntei tentando direcioná-lo, ele parecia que ia se perder a qualquer momento.
— Sim, consigo, é bem simples se entender as angústias. Ele é rico e poderoso, então está inserido entre semelhantes ricos e poderosos, esse é o grupo dele, o que vai tirar ele da solidão, o que resolve a primeira angústia. Mas ele também precisa resolver a segunda angústia, a da identidade. É ela que o instiga a ficar sempre mais rico e mais poderoso. Se o político corrupto ficar pobre, perderá o grupo e cairá na solidão, se ele não se destacar na riqueza e no poder, que é o modo de reconhecimento do seu grupo, ele perderá a identidade e será só mais um, então ele faz de tudo pra sanar a segunda angústia. É o que acontece também nas universidades, onde dizem que é um espaço de vaidade. Não tem nada a ver com vaidade, tem a ver com angústia. Como acreditam que todos os professores teriam propensão ao orgulho? Essa não é uma característica universal, as angústias sim. Nas universidades os acadêmicos fazem parte de um grupo, mas precisam se destacar, como o político corrupto. A diferença é que o destaque aqui é por meio do conhecimento, daí surge o que os outros entendem como vaidade. É por isso também que os acadêmicos não estão nem aí pro povo comum, pros jornalistas e pra qualquer outra pessoa fora dos seus grupos. Todo mundo quer se destacar para os semelhantes, porque o objetivo não é reconhecimento. O reconhecimento é só o meio pro fim, que é a satisfação da angústia da identidade, é não perder a si mesmo. Existe um jeito de perceber a angústia da identidade sendo rapidamente escoada do corpo, basta viajar. Quem sai da sua cidade natal e vai pra outro país, por exemplo, se vê livre da angústia da identidade, mas isso também não é solução, porque aos poucos a angústia da solidão cresce a pessoa se vê desesperada. Tudo... tudo pode ser explicado por essas duas angústias, professor. Cada irracionalidade que não conseguimos compreender, cada fenômeno social....
Depois de terminar, não escutou minhas considerações, levantou-se e foi embora. Durante dias fiquei digerindo tudo aquilo. Acho que Nícolas tinha razão. Lendo sua história na 5ºA consegui compreender ainda melhor o que ele quis dizer.
V
Agora chegou a hora de descrever o que aconteceu com Nícolas durante os três meses em que esteve na 5ºA.
Ele entrou na turma de pirralhos empolgado com o plano de conquistar Camilla, durante as duas primeiras semanas em seu diário, não havia outra coisa. Ele descrevia tudo o que ela fazia e achava cada uma das coisas o máximo. Ainda não tinha notado as violentas diferenças que existiam entre o antigo grupo e o novo. Na verdade, estudava com a 5º A durante as aulas, mas passava os intervalos e as tardes com os amigos da 5º B falando sobre como era bom estar próximo do seu amor. Na terceira semana, entretanto, ele pareceu notar algo e, incrivelmente, seu primeira tristeza não aconteceu entre os pirralhos, mas sim entre os amigos.
Nícolas descreveu uma cena que representa o rompimento do que chamou no seu email de coletividade individual.
Em um intervalo, como de costume, foi até a sala da 5ºB, chegando lá encontrou os pequenos concentrados num trabalho de geografia.
— Não, não foi isso que o professor perguntou — disse Vinícius — ele perguntou por que os países devem crescer e você está respondendo o porquê dos países investirem em educação e saúde.
— Mas é a mesma coisa! — disse irritada uma garota.
— Não é a mesma coisa.
Nícolas entrou no meio da discussão.
— Tivemos o mesmo trabalho — ele disse confiante — mas não tivemos tantos problemas. Os países precisam crescer para não ficarem para trás, quem não cresce, obviamente diminui, certo? Na verdade, só eu respondi, os meus colegas da A não gostam de participar dos trabalhos.
— Não, não é isso. O professor explicou isso que está falando — disse Vinícius — é que surgiu uma polêmica... é difícil explicar.
— Escuta aqui, é a mesma coisa...
— Qual foi a polêmica? — perguntou Nícolas.
Todos falaram ao mesmo tempo.
— Assim não consigo entender, um de cada vez, por favor.
— Ah, esquece, você não precisa saber, Nícolas. É coisa nossa — disse a garota.
Nícola descreveu-se subitamente arrepiado. Em seu relato disse que olhou espantado para Vinícius e suplicou mudo para que ele respirasse fundo e mudasse aquela situação, que parasse tudo que estava fazendo e o puxasse de novo para o grupo explicando-o a polêmica.
— É complicado — respondeu Vinícius ignorando-o e voltando à discussão.
Todos da turma estavam fechados numa roda e cada um discutia com seu par, como se houvesse uma organização perfeita de discordâncias. Nícolas, por outro lado, estava de fora procurando um espaço onde pudesse se encaixar ou um olhar convidativo.
Lendo o diário lembrei-me desse dia, fui eu o professor que entrou na 5ºB depois do intervalo e o vi ali, como uma criança sem voz no jantar dos adultos. Para piorar, disse ainda:
— Vamos, Nícolas, volte para sua sala.
Nessa época estava insatisfeito que ele ainda passasse os intervalos ali, achava crucial a dedicação total aos pirralhos para sucesso do plano.
Ele nunca mais entrou na 5ºB depois desse dia.
Depois de um mês na turma, Nícolas começou a relatar episódios de perseguição. Um nome aparecia com frequência no diário: Pedro, o líder de um quarteto perverso que entre outras coisas praticava assédio e vandalismo.
Num primeiro momento, Nícolas foi vítima de cuspe. Aparentemente eles escarragam na mão e depois passavam em sua nuca, isso nos intervalos ou nas aulas. Se me lembro bem, tinham um nome para isso, mas nem eu e nem Nícolas conseguimos recordar. “Era como um forma de comunicação, já que não faziam só comigo, praticavam esse gesto nojento entre eles. Talvez, a esta altura, estivessem só curiosos sobre mim, dependendo da forma como agisse, poderiam até mesmo ser convidado para integrar o grupo”, escreveu o pequeno gênio.
Nícolas, entretanto, tomou a pior atitude possível, ignorou-os e a laconicidade foi interpretada como agressão. Depois de dias, o convite singular deu lugar à brincadeiras ainda mais enfáticas de dominação. Sempre que se ausentava, o pequeno era surpeendido pelo sumiço dos materiais. Ignorar já não era uma opção, agora precisava se humilhar rastejando-se debaixo das carteiras por minutos para encontrar os livros. Todas as semanas isso se repetia e enquanto acostumava-se com a degradação, passava a estudá-la reparando que só ouvia quatro risadas, de Pedro e os outros três. O restante aguardava com aflição o término da cena.
A 5ºA parecia ter selecionado um líder. Claro que não como Nícolas foi da turma anterior, nada parecido com isso. Pedro dominava pelo medo e tinha opositores tão violentos quanto ele, amargurados por não poderem ser eles mesmos os opressores. Se não riam nada tinha a ver com a falta de graça, mas sim porque queriam que fossem eles os humilhantes. “Na época eu achava ótimo que Camilla não dava risadas de mim. Fantasiava um dia em que ela me falaria sobre tudo aquilo, como era ridículo e como eu agia certo ignorando as perseguições. Fui idiota, hoje sei disso, ela achava sim graça, mas não ria em parte porque tinha medo do Pedro e em parte porque lamentava não ser ela quem havia pregado a peça. Descobri isso quando tomei coragem num intervalo e fui dedicá-la pela primeira vez um comentário. Aproveitei que estava sozinha e com a confiança que me foi concedida por natureza — e depois quebrada pela sorte — disse que Pedro era um problema e que precisávamos discutir sobre o que fazer. Nessa hora ela riu e confesso que fiquei sem entender se eu tinha sido engraçado ou se a ideia havia sido tão bem recebida para alegrá-la daquele modo. Descobri algo sobre mim nesse dia: podia ser muito burro. Camilla não respondeu, afastou-se. No dia seguinte meus materiais sumiram de novo e dessa vez havia sido ela quem os escondera. Meu comentário deu a ela o direito de me humilhar. Obviamente esse direito não havia sido concedido por mim, mas por Pedro, que ficou sabendo e a permitiu tomar a posição do quinto carrasco.”
Nícolas continua a história revelando outro evento humilhante. Lembro-me muito bem desse dia e de novo agi errado.
Provavelmente alguém da antiga turma havia espalhado a paixão que Nícolas sentia por Camilla. Por causa disso, às sete horas em ponto, ele entrou no meu escritório com o rosto deformado, segurando como podia o choro. De imediato reparei que na bochecha esquerda existia a figura de um coração enjaulando as letras ‘N’ e ‘C’. Era bem evidente também as manchas avermelhadas ao longo de todo braço. Tinha experiência suficiente para entender o que havia acontecido antes mesmo que ele abrisse a boca: os delinquentes o seguraram e marcaram seu rosto com a caneta.
Para mim, na época, aquilo não passava de uma fase de transição, algo que com certeza ele teria que lidar antes que tomasse as rédeas e consertasse os pequenos demônios. Então fiz de tudo para lidar da melhor forma possível, bem, não da melhor, mas de um jeito passivo, que não prejudicasse a imagem de Nícolas. Tinha para mim que se punisse os agressores, dificultaria todo o plano.
— Esse tipo de comportamento é normal, crianças fazem esse tipo de coisa — ainda consigo me enxergar sendo patético.
“Saí do escritório transtornado”, ele escreveu no diário relembrando o dia. Sim, eu tinha notado, Nícolas.
Peguei Camilla matando aula, sentada sozinha no quiosque com o rosto também marcado pelo coração. Pedro não a havia poupado e de acordo com Nícolas isso só fez aumentar o ódio dela por ele. “Me odiava, evitava me olhar e sempre mantinha distância. As perseguições de antes cessaram, depois do coração tudo que ela queria era distância, não ser associada de forma alguma a mim. Mas ela canalizava seu ódio em outras pessoas, principalmente nas outras garotas. Chegou ao ponto de grudar chiclete nos cabelos de uma menina tímida que se sentava na primeira fileira, no outro dia ela chegou com os cabelos curtos e foi chamada de menino pela turma inteira. Dois dias depois deixou o colégio, não me lembro do nome dela.”
Um dia a professora de história fez uma pergunta ao Pedro e ele não soube responder, então começou a fazer piadas. Nícolas, impaciente, deu a respota, obviamente certa. No intervalo entre as aulas foi agredido. De novo foi segurado e recebeu um tapa no rosto, uma das unhas raspou em seu olho direito. Dessa forma, ele se apresentou mais uma vez — a última, por sinal — em meu escritório com um dos hemisférios oculares pintado por fibras vermelhas.
— Quero voltar.
Dessa vez não tinha vontade de chorar, estava repleto de ódio. Gostei do que vi.
— Não pode — disse e depois inventei uma justificativa igualmente patética, igual a todas as outras.
Ele foi obrigado a voltar para sala. Depois de um mês, aconteceu o evento trágico que o marcou por toda vida.
VI
Como eu disse, existiam na 5ºA alguns alunos que não participavam das brigas de gangues e eles eram a escória em termos de poder . Conviviam diariamente com as perseguições e rezevam para que o colega do lado fosse a vítima da semana. Suas vidas no colégio era uma constante vigília e um jogo político exaustivo para não chamar atenção.
Eram três os principais neutros e os que mais sofriam.
O primeiro dele era Rafael, um pequeno que havia sido criado por pais surdo-mudo e por isso tinha dificuldades na fala. Até ir ao colégio havia tido raro contato com a língua, depois só falava durante as aulas e, mesmo assim, se fortemente provocado pelos professores. Sua concepção de sociabilidade era singular sendo bem mais gentil que a maioria dos garotos da sua idade, fruto, naturalmente, de um lar que convive com a deficiência. Sempre que o professor ia dizer seu nome na chamada, Pedro gritava do fundo:
— Rafardado!
Depois riam quando ele respondia:
— Presente!
O segundo pequeno, Heitor, era doente. Quando foi matricula-lo no colégio sua mãe me explicou que tinha problemas hormonais e por isso mesmo com uma dieta rigorosa se mantinha acima do peso. Além disso tinha problemas para respirar, assistia às aulas com um aparelho de plástico entre as narinas. Se o tirasse, ficava sem fôlego e em segundos a respiração começava a arranhar. Era uma presa fácil. Quando Pedro viu aquele objeto diferente dentro do seu nariz, sua mente maligna logo pensou numa brincadeira: tirar e ver o que acontece. Fez isso na primeira semana de aula e depois gritou alegre:
— Ele ronca! É um porco! — aquilo virou um hábito.
A terceira pequena era uma garota negra e pequena, se chamava Paula. Desde a primeia vez que a vi, tinha acima dos lábios três fios bem finos e bem negros. Ela nem se dava conta deles até que os garotos começaram a chamá-la de macaca. Costumavam desenhar bigodes nas fotos dos livros e depois escreviam em forma de legenda, ‘Paula’. Essa sofria especialmente na mão de Camilla, que não desperdiçava uma oportunidade de humilhação. Como quando a prenderam dentro das grandes de um container que estava no pátio esperando ser recolhido e Camilla gritou que os circo estava no escola e tinha trazido consigo o macaco mais feio da África.
Nícolas observava todas essas todo o sofrimento desses pequenos e sabia que o único jeito de vencerem Pedro era pelo união. Mas ele estava mudado, não era o mesmo que pregava o amor na turma anterior, havia crescido nele o desejo de vingança. Foi assim que ele interpretou seu ânimo naquele momento:
“A fome da alma, é assim que Camus descreveu só aos vinte de dois anos a angústia da solidão. No conto, seu personagem vaga sozinho pelas ruas de praga tendo dentro de peito aquele tremor de quem se encontra desabrigado, numa terra de estranhos, enfim, um estrageiro. Era assim que eu me sentia naquele momento, ia ao colégio sentindo meu peito tremer, não havia com quem conversar, não era entendido, não tinha mais ninguém. Aos poucos a minha covardia chegou para o lado dividindo o espaço com a ferocidade.
Antes de dormir, não fantasiava mais as histórias de amor com Camilla ou meu futuro como um adolescente bem-sucedido, bonito e inteligente. Gostava de pensar em sangue e passei em claros muitas noites empolgado com ideia de fazer Pedro sofrer das mais diversas maneiras. É assustador pensar que tinha somente doze anos e conseguia imaginar tantas crueldades. Durante muitos dias pensando em como fazer isso, cheguei à conclusão que precisava de aliados. Esse sempre tinha sido a minha força, então bastava colocá-la em prática.
Pensando hoje sobre isso percebi que tinha mudado. Sem que percebesse, a moral de violência daquela turma havia se fixado em mim e eu fantasiava era com a ascensão dentro daquele sistema perverso. O tremor de ser o estrangeiro havia passado, eu sabia o que encontraria ali, todos já me conheciam e mesmo na solidão, havia, pelo menos, compreensão. Agora eu precisava da identidade, porque não era uma configuração sagrada como a que tinha, ali eu precisava subir, sobretudo por causa de minha natureza orgulhosa.
Passei um mês inteiro tentando convencer os oprimidos como eu a se juntarem a mim. Foi difícil aceitar quando eles recusaram. Rafael, Paula e Heitor, todos eles sofriam diariamente, mas me disseram categoricamente que não tinham qualquer intenção de lutar.
Paula me disse que sabia que não era uma macaca e que por isso nao se importava quando a chamavam daquele modo. Disse ainda que odiava a todos naquela escola, de tal forma que fingia estar sozinha quando estava lá dentro e sempre quando ia embora se alegrava vendo a mãe que tanto amava. Heitor jurou que não iria morrer sem o aparelho, que ele só servia para ‘facilitar’ a respiração e não me disse mais nada. Rafael assustou-se violentamente quando falei sobre vingança e não quis mais ficar perto de mim.
Fui tomado pelo ódio, xinguei os covardes e fiz sozinhos meus próprios planos. Deveria ter pensado mais. Porque aqueles que era tão perseguidos quanto eu não buscavam vingança? Qual era a diferença? Resignação, talvez. Confesso que ainda não sei, mas me arrependo do que fiz. Passei anos curioso sobre a sensação do que tinha causado, acho que esse é meu último desejo, conhecer pelo que ele passou.”
Nícolas, numa tarde de educação física, levou a arma de um tio para o colégio e estourou o crânio de Pedro. Passou os anos seguintes em instituições do governo, sua família se mudou eventualmente e bem... ele realizou o desejo de conhecer aquilo que causou.
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Eu sou fantástica!

[edit: Vocês são fantásticos! Não imaginei que esse post fosse receber tanta atenção positiva. Vocês me fizeram muito feliz
E, kind stranger, obrigada pelo award]
Há um tempo atrás escrevi um post no tumblr dedicado a todas as coisas ruins da minha personalidade. Por muito tempo planejei escrever o antipost com a intenção de provar que nem tudo é fezes no meu reino e que eu também sou fantástica.
O momento finalmente chegou! Eis aqui uma lista - imensa, eu espero - que prova isso.
1 - Eu converso muito bem. Muitos anos de muitos livros e uma predileção por retórica me deram o dom de sustentar conversas agradáveis. Eu consigo fazer piadas bobas ou falar de Filosofia com alguma facilidade. E consigo fazer as pessoas rirem e se divertirem de verdade.
2 - Eu escrevi um relatório de Milikan praticamente sozinha. Milikan foi um cara muito louco que determinou a carga do elétron com um experimento extremamente trabalhoso em que gotas pentelhésicas de um óleo são ionizadas e depois submetidas a um campo elétrico e magnético - Ou campo elétrico e queda livre - dentro de uma caixinha pequenininha com um papel milimitrado ao fundo. Determinando o tempo que a tal gotinha leva para atravessar uma determinado distância - e repetindo o processo o maior número de vezes até que a gota suma do seu campo de visão - você é capaz - através de uma série de cálculos - de definir a carga do elétron.
Eu escrevi esse relatório praticamente sozinha no Laboratório de Moderna. A nota foi 8,5, mas deveria ser 9 se eu não tivesse tido a brilhante ideia de colocar uma tabela ao final do trabalho sem utilizar os dados com algarismos significativos.
Eu também achei a carga de meio elétron ao final do experimento, mas isso não vem ao caso.
3 - Tudo que eu pego para fazer eu faço da melhor maneira possível. Seja sobrancelha de henna, unhas, desenhos, limpeza. Eu tento fazer da melhor maneira possível. Da mais perfeita.
4 - Eu escrevo bem. Tenho histórias bem legais guardadas em um blog. Tenho facilidade em usar palavras. Em combinar palavras. Em trazer humor a escrita. E eu escrevo desde sempre. Primeiro diários, depois histórias, depois cartas para amigos, depois cartas de despedidas por causa de um pseudo câncer com o qual eu mesma me diagnostiquei, depois blogs.
5 - O meu cabelo é lindo! Sério, é cabelo de unicórnio que só usa Pantene. Ele é lindo e gigantesco.
6 - Eu sou uma boa amiga. Eu tomo as dores dos meus amigos e tento dar conselhos sempre que eles me procuram com problemas.
7 - Eu amo dançar. E danço bem. Desde criança eu tiro um prazer imenso da dança. Lembro das coleguinhas da rua virem para cá e nós nos acabávamos dançando cds e mais cds todos os dias. Eu acredito ter uma facilidade para a dança, mas também tenho vergonha de dançar na frente dos outros.
8 - Eu desenho bem. Poderia ser melhor, se eu praticasse, mas eu creio que desenho bem para quem é preguiçosa.
9 - Eu falo e escrevo em inglês extremamente bem. Não é mérito só meu. Eu tive a chance de começar muito cedo por causa de um casal de velhinhos que alugavam casa para os meus pais. O senhor tinha vários livros de inglês e me ensinou desde que eu tinha três anos. Eu era atração na igreja que meus pais frequentavam.
10 - Eu dei uma aula fantástica usando o Tracker no estágio da faculdade. Fiz um PowerPoint com o Bob Esponja na capa e dentro vários gifs explicando o funcionamento do programa. Tracker é um app legal demais que te permite calcular, por exemplo, a gravidade ou a velocidade de alguma coisa, usando vídeos. Você marca a movimentação de um pixel frame a frame e o tracker converte esse negócio em distância. Daí ele faz os cálculos e também gráficos. (Tem vídeos no youtube da galera calculando a gravidade no Angry Birds, por exemplo)
11 - Eu gosto de explicar coisas. Eu me satisfaço demais explicando coisas complexas que consegui entender para outros. Como, por exemplo, o funcionamento do microondas. Como ele “nasceu” da ideia da criação de um raio da morte na segunda guerra e evoluiu nessa coisinha pequena e prática que temos em casa que usa campos magnéticos para mexer com a dipolo água, e desse jeito esquenta nossas comidas e não nossos cérebros.
12 - Eu amo resolver problemas no trabalho. Minha maior satisfação é ter uma pilha de coisas para fazer e conseguir resolver cada um deles, por mais complexos que sejam, sozinha ao longo do dia.
13 - Eu amo animais. E ajudo todos os que posso. Sempre que o dinheirinho permite.
14 - Eu consegui entender Nietzsche sozinha - E também sei escrever o nome dele sem precisar do Google. Quando digo sozinha quero dizer através da minha própria pesquisa e curiosidade. Sem ser obrigada. Tive conversas extremamente legais no Reddit na sub de Filosofia que me auxiliaram demais. Conversas que eu não me achava capaz de ter, sobre coisas que eu não me achava capaz de aprender.
15 - Eu consigo rir da minha desgraça. Às vezes até mesmo durante a desgraça. O terapeuta sempre dizia que eu ria enquanto chorava e fazia piadas com o choro também.
16 - Eu fico bonita chorando.
17 - Quando alguém me procura com alguma tristeza para contar eu sempre quero muito dizer a coisa certa para aliviar esse sofrimento.
18 - Eu sonho ser livre. Do medo, da rejeição, da carência. E esse meu eu ideal, essa Casanova de chocolate é tão legal e me faz tão feliz que me afastar dela todo dia com a realidade me faz sempre um pouco mais triste.
19 - Eu sou cheirosa - Em horário comercial.
20 - Eu sou simpática e falo com todo mundo.
21 - Eu sou carinhosa - Ainda que tenha vergonha disso.
22 - Eu beijo bem - Foi o que ouvi dizer.

É um textão e talvez ninguém leia, mas eu precisava compartilhar isso com alguém.
E mais, se você, como eu, se sente geralmente incapaz, desinteressante, pequeno, faz a sua listinha também. Em cima das fezes às vezes existem flores.
submitted by Cintilante to desabafos [link] [comments]

só quero me matar, nada me faz feliz e não vejo motivos pra continuar viva

Sempre q eu tento desabafar na internet nao da em nada mas nao custa tentar...
Já tem alguns meses que eu sinto uma vontade enorme de desistir de tudo. Eu sempre fui muito otimista em relação ao futuro, tinha motivação pra estudar pra fazer o curso dos meus sonhos, me via casada e rodeada de amigos quando pensava na vida adulta. E não faz mais sentido pra mim.
Acho q tudo começou no final de 2017, eu comecei a ter vergonha da minha aparência. Eu perdi a chance de namorar com um cara que eu me dava super bem simplesmente porque eu me achava feia ???(também sou extremamente tímida desde criança oq piora a situação, deus é sádico) e isso me deixou muito mal, nunca superei e não tive nada desde então por causa do trauma 100% responsável por mim. Basicamente, eu me sentia inferior ao ponto de nao merecer nada disso.
No ano seguinte tudo piorou. Eu comecei a me isolar de verdade. Alguns amigos que estudavam numa escola que fica na rua da minha casa (e aqui está o problema) batiam no portão e eu simplesmente não abria tipo????? sua putinha você ta se isolando por que? Enfim, era isso, uma hora eles cansaram e a gente se afastou. Eu ainda era próxima de cinco pessoas da minha sala e aos poucos eu me afastei de cada um.
Tudo piorou esse ano. Nova escola, novas pessoas, e eu travei. Não conseguia interagir com ninguém. Duas das pessoas que eu afastei foram pra mesma escola e em pouco tempo elas se enturmaram em um grupo grande... e eu senti inveja porque não tinha conseguido o mesmo, passava o tempo todo de cabeça baixa na aula. Como em todo lugar, as vezes aparecia um extrovertido ou outro pra puxar assunto com a pessoa tímida da sala mas eu não conseguia levar a conversa sabe? é uma habilidade que eu perdi. Me sinto inferior por isso. Em três semanas eu não aguentei, o pânico era cada vez maior. Na hora de sair eu não sei o que acontecia mas vinha uma onda de ansiedade e pânico que eu não consigo explicar, chorava ao ponto de soluçar igual criança na frente dos meus pais (coisa que não acontecia desde q eu era criança). Enfim, eles me levaram á uma psicóloga mas só fiz uma consulta, no dia marcado pra segunda sessão eu liguei e ela tinha desmarcado todos os pacientes por conta da pandemia.
Meu único amigo conversava comigo diariamente, a gente se dava muito bem e tal (até pq nossa personalidade era parecida, ele também era introvertido como eu e isso fazia eu me sentir melhor, tipo pelo menos não sou a única com esse problema). Acontece que ele aparentemente fez amigos assim como os outros que eu afastei, ele me contou sobre o cara q ele conheceu e ficou, e eu me odeio por ter sentido inveja disso, mas quem na mesma situação q eu não sentiria? A única pessoa que me fazia sentir normal por ser introvertida conseguiu fazer novos amigos e socializar igual todo mundo. Acabei me afastando dele, a ultima vez que a gente se falou foi a três dias atrás, era meu aniversario e a única pessoa que eu esperava que se lembrasse disso era ele mas adivinha? a unica coisa q ele disse foi que ia ficar sem wpp e só. Eu não me importo com aniversários mas isso me magoou de verdade, é incrivelmente fútil e idiota tudo isso mas imagina teu melhor amigo não lembrar do teu aniversario...
Já fazem alguns meses que eu percebi que só tenho aos meus pais e é isso. Nunca vou conseguir socializar como todo mundo e isso esta me matando. Parece problema de criança tímida que sofre bulliyng na escola mas eu nao sei oq fazer. Isso me fez perceber que se eu não consigo fazer amigos, não vou namorar nunca, e por ser frustrada nunca vou entrar numa faculdade e/ou arrumar um trabalho decente. Esse é o pensamento q gira na minha cabeça 24/7. Eu sei que toda essa história é muito boba mas nada mais vale a pena pra mim, não lembro a ultima vez que eu estive feliz de verdade, penso sobre a morte e sobre suicídio quase que diariamente. Só não tentei porque vai acabar com a vida dos meus pais e traumatizar minhas irmãs mais novas. Eles são realmente bons pais, não são tóxicos nem controladores, sinto que não mereço ser filha deles mas me matar ia acabar com a vida deles também. Ter um filho q se suicidou nao é uma coisa que se esqueçe de um dia pro outro. Uma hora eu vou me cansar de tudo isso, eles tem outros filhos não seria tão ruim um a menos.
Enfim, se alguém leu ate aqui me desculpe por não conseguir explicar tudo de um jeito menos infantil e bobo (por incrível que pareça, tenho bem mais que 9 anos), mas eu realmente penso em desistir diariamente, eu vou procurar ajuda psicológica de novo mas acho q ninguém muda da água pro vinho por causa de terapia... Só desabafei aqui porque queria ver se encontro alguem com o mesmo problema ou uma solução...
submitted by rivrotil to desabafos [link] [comments]

segunda maior causa de morte no mundo video

Maior causa de morte no mundo - YouTube Dia Mundial de Combate ao Câncer: doença é a segunda maior ... Últimas Noticias Coronavírus Mundo: EUA registram maior ... Rádio CBN - Morte súbita é a segunda maior causa de morte ... MANEJO PRÁTICO DE PACIENTE COM AVC

Clique aqui 👆 para ter uma resposta para sua pergunta ️ Qual doença é a segunda maior causa de morte entre mulheres no Brasil e do mundo, e apenas 10% dos caso… Estimativas indicam que a obesidade já é a segunda principal causa de morte no mundo todo. Segundo dados de 2018 da Organização Mundial de Saúde (OMS), o excesso de peso mata mais do que o câncer, mais do que a Aids, mais do que o crime e mais do que o trânsito. Só não mata mais do que cigarro. Desde 1975, o número de pessoas obesas ou com sobrepeso quase triplicou. O aborto foi a causa número 1 de mortes no mundo em 2018. Até 31 de dezembro, 41,9 milhões de crianças foram mortas antes de nascerem. Como comparação, 8,2 milhões de pessoas morreram de câncer em 2018, ou seja, cinco vezes menos que o total de bebês que foram abortados no mesmo período. Ao longo Ler mais… A cada ano, mais de 646 mil pessoas morrem por causa de quedas no mundo, a maioria delas ocorrendo com idosos com 65 anos ou mais. Quedas são a segunda maior causa de mortes por ferimento ... OMS divulga as dez principais causas de morte no mundo - A Organização Mundial de Saúde divulgou as principais causas de morte no mundo. Estas informações podem ajudar a avaliar a eficácia do sistema de saúde de um país, promover melhorias nas ações de saúde pública e colaborar para a redução das mortes evitáveis. - Saúde - news.med.br Lembrando que o "cancro é a segunda maior causa de morte em todo o mundo", é também sublinhado, na mesma publicação, que "pelo menos um em cada três cancros podem ser evitados". Neste dia ... O artigo Global Burden of Stroke aborda o “custo” (material, humano e de saúde) global dos acidentes vasculares encefálicos (AVE) no mundo. Sendo esta patologia uma das maiores causas de mortalidade em todos os países (possivelmente a maior no Brasil), além de ser uma importante causa de morbidade e dependência para inúmeros pacientes. No geral, pouco mais da metade de todas as pessoas que cometem suicídio têm menos de 45 anos. Entre a faixa etária de 15-24 anos, o suicídio é a segunda principal causa de morte, depois dos traumas causados por acidentes rodoviários. A OMS está realizando uma campanha de um mês sobre a prevenção do suicídio. A história das maiores causas de mortes no mundo, é uma histórias sobre as mudanças no modo de vida das pessoas, ao longo dos anos. Em 2017, cerca de 56 milhões de pessoas no mundo morreram. São 10 milhões a mais do que em 1990, mas é preciso levar em conta que a população global aumentou e as pessoas vivem mais tempo, em média. De fato, o número de mortes por suicídio é maior do que o número de mortes por todas as formas de violência – incluindo homicídio, terrorismo, conflito e execuções – em todo o mundo e em muitos países do mundo. Na parte inferior da lista, é possível observar mortes por desastres naturais e ataques terroristas.

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Os Estados Unidos se aproximam de atingir a marca de 50 mil mortes provocadas pela Covid-19, à frente da Itália, Espanha e França.Fonte:https://g1.globo.com/... Infarto é a de mais longe a maior causa de morte no mundo e a obesidade esta diretamente ligada aos infartos O AVC é a segunda causa de morte no mundo, além de ser a terceira causa de incapacidade (sequela). O tempo entre o início dos sintomas e a instituição do tratamento é fundamental para ... Em entrevista para a Rádio CBN, o cardiologista e Presidente da SOBRAC, dr. Guilherme Fenelon, fala sobre a morte súbita, segunda maior causa de morte no Bra... Se nada for feito para mudar, o mundo verá um aumento de 60% nos casos de câncer nas próximas duas décadas. O alerta é da Organização Mundial da Saúde, OMS. ...

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